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Lembro-me de Barca de Alva durante a minha infância e adolescência, quando se faziam ligações ferroviárias para Espanha. Em dois verões seguidos fomos às festas no lado de lá da fronteira — e havia um restaurante na estação, aguardando pelos comboios. No fundo, foi por lá que Jacinto e Zé Fernandes entraram em Portugal, no romance de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras. Hoje, descendo para Barca de Alva pela Serra do Reboredo (o meu caminho preferido), vê-se um casario reduzido, a prata do rio e os sulcos de olivais e vinhas. Mas a aldeia – que sempre foi pequena – quase desapareceu, incluindo a estação dos correios (um ilustre edifício abandonado e em ruínas). O cais tem dois ou três barcos de cruzeiro, de bom porte, mas há poucos turistas pela rua. Sentimental, imagino Guerra Junqueiro a passear nos amendoais (ele passava temporadas aqui, na sua quinta), e Jacinto e Zé Fernandes a despertar da viagem num dos comboios que já não passa em Barca de Alva (“Cheira bem!”, repete Jacinto pela milésima vez). A nossa soberania em Barca de Alva é um risco de melancolia.
Da coluna diária do CM.
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