Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Passam hoje 470 anos sobre a fundação de São Salvador da Bahia de Todos os Santos – ou seja, a cidade de Salvador. A nossa história está ligada à da primeira capital do Brasil, estabelecida por Tomé de Sousa, o governador-geral da colónia, em 1549. Porque a conheço bem, não partilho a ideia festiva de uma “cidade alegre” e “desejável”. E, ainda hoje, mais do que a barulheira insuportável da cidade, procuro os sinais que me agradam e comovem: a passagem do Padre António Vieira, talvez certos versos de Castro Alves, e os melhores romances de Jorge Amado – além da música, naturalmente (está lá o génio miraculoso de Dorival Caymmi), e da chamada “arquitetura colonial”, um colosso. Cidade negra e misturada, Salvador é um gigantesco romance de Amado – mesmo que o não seja de verdade. Dona Flor e os Seus Dois Maridos é sublime, prodigioso; Tenda dos Milagres, um tratado de antropologia, tal como Os Pastores da Noite é um registo histórico a não perder. Pobre, sensual, histriónica, diabólica, violenta, e também divertida, a beleza impura de Salvador às vezes ainda comove perdidamente.
Da coluna diária do CM.
Cerca de 33% dos americanos que terminam o ensino secundário nunca mais leu um livro até ao fim da vida. O número é avançado num estudo do Pew Research Center publicado recentemente. Por ele ficamos a saber que 42% dos licenciados jamais leram um livro depois da faculdade e que 70% dos adultos norte-americanos não entraram numa livraria nos últimos cinco anos. Num estudo similar regista-se que 80% das famílias norte-americanas não compraram nem leram um livro em 2018. Em resumo, nos últimos dez anos houve uma queda de 37% da venda de livros nos EUA. A situação em Portugal é, digamos, parecida. Ao contrário do que algumas boas almas apregoam, os números descem diante da passividade das chamadas instituições públicas – convencidas de que as más notícias trazem maus factos e de que o otimismo deve ser bombeado como oxigénio para incautos. Não me admira que assim seja. Ontem, a página digital e propagandística de um ministério trocava “concelho” por “conselho” e não é certamente por falta de analfabetos à solta, que andam um pouco por todo o lado. Deve ser confiança política.
Da coluna diária do CM.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.