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A unanimidade que se abateu (uso de propósito a palavra “abateu”) sobre o Presidente da República deixa uma impressão tripla: a de que estamos diante de um caso único de popularidade entre nós, que somos rápidos a criticar seja quem for; a de que a viagem do Presidente veio no momento certo, depois de uma ligeira erosão da sua boa imagem nas sondagens; a de que “Marcelo” salvou as nossas relações com Angola. As três ilações são verdadeiras. Mas resta uma quarta: a irritação que causa, em gente normal, esta unanimidade cheia de elogios banais, de ditirambos vazios sobre a sensibilidade, o afeto, a “ligação às massas”, a empatia que “Marcelo” gera nas multidões, o desprezo pela solenidade. A verdade é que “Marcelo” entendeu perfeitamente como se gere um povo ciclotímico, oscilante e sedento de gestos de “afeto” (uma palavra que se tornou detestável). Da elite lisboeta, que “Marcelo” desdenha com graça e oportunismo, ele é dos poucos que compreendeu o caráter frágil, desprotegido e abandonado dos portugueses. O que é uma virtude – e pode ser um perigo tremendo, se lhe dá para o mal.
Da coluna diária do CM.
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