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Os ‘acontecimentos’ no Bairro da Jamaica, no Seixal, reduzem-se hoje aos confrontos entre a polícia e alguns dos seus moradores – mas não deviam. Quando Bruno Vieira Amaral publicou o romance As Primeiras Coisas (2013), centrando a ação no ‘Bairro Amélia’ (no Vale da Amoreira, Moita), o “país literário” descobriu – maravilhado – o mundo cercado dos subúrbios de Lisboa na Margem Sul que não era a futura chique Lisbon South Bay. Também podiam ter ido aos bairros da Bela Vista, em Setúbal, ao Pinheiro Torres, no Porto, ou ao 6 de Maio, na Amadora. Estes bairros, entre outros, são identificados como “problemáticos”, o que é uma designação cretina – como se os seus habitantes estivessem destinados a “causar problemas”, quando o problema mais sério é o de um país em que o Estado se ausenta dos lugares onde deve estar, para providenciar segurança para todos. Mas também para impedir que a pobreza e a discriminação cresçam de mãos dadas, uma na sombra da outra. A ninguém ocorreu, nestes dois dias, que o verdadeiro problema é o da necessidade de acabar com esses bairros e a sua degradação?
Da coluna diária do CM.
Joana Amaral Dias revelou, no domingo à noite (na CMTV), o relatório preliminar da auditoria à Caixa Geral de Depósitos. Não sei se assistiram. Vale a pena. Com a leitura suplementar do livro de Helena Garrido, Quem Pôs a Mão na Caixa? A História que Envergonha o País (Contraponto), são dois documentos importantes para compreender o Portugal contemporâneo e a forma como 1200 milhões de euros (além de outras centenas de milhões de permeio) se evaporaram entre favores, violação das regras de concessão de crédito, jogos de risco e outras irregularidades. Confirma-se que parte do empresariado lusitano vive não só à sombra do Estado mas de conluio obsceno com os incumbentes de ocasião. Trocam favores, claro; mas também casamentos, conveniências e perdas de juízo – uma endogamia perfeita, protegida por vários segredos cujo conhecimento envergonharia toda a gente. A história do banco público é parte dessa vergonha milionária. No entanto, se o leitor tem mais de 50 mil euros num banco, o fisco considera-o um ricaço tremendo e coloca-o na sua lista de vigilância. Brava gente. Bravíssima.
Da coluna diária do CM.
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