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Sobrevivamos à solidão.

por FJV, em 24.12.18
No ocidente, a festa do Natal deixou de ser a do nascimento de Jesus, excepto para um número residual de cristãos, a maior parte deles ostracizados ou sitiados. Mesmo entre estes é mais corrente a designação de “festa da família” ou “do encontro” numa sociedade essencialmente laica, gentia ou ateia. O andamento das coisas é o andamento das coisas e não parece que se volte à Missa do Galo, ao presépio, ou à celebração ritual de um Jesus de Nazaré tão histórico como simbólico — uma espécie de paragem no círculo do tempo (como a Páscoa). A velha e tradicional consoada, familiar e doméstica, está a passar para o ramo alimentar, florescendo no negócio dos restaurantes, na sequência, aliás, da institucionalização da “época das compras”. Ao cristianismo ocidental sucede uma espécie de “paganismo da felicidade”, turbulento, comercial e irrisório, como o sinal do início do inverno — mesmo assim, alguma coisa existe que não conseguimos esquecer. Mesmo para quem não é cristão, a “quadra natalícia” é um pretexto para nos vermos. Sobrevivamos à solidão; isso será o bastante.

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Beethoven no inverno de 1808.

por FJV, em 24.12.18

Hoje, o dia terá apenas uma duração de 9h27 e os astrónomos estabelecem que o inverno chegará às 22h23 – é o dia mais curto do ano. Amanhã, sábado, teremos mais um segundo de luz solar (o pôr do sol ocorre às 17h18m38) – todos os anos há ligeiras mudanças. Haverá coisas importantes a dizer sobre o inverno (os poetas são banais nessa matéria, repetindo-se muito), mas eu prefiro falar sobre o primeiro dia do inverno de 1808, há 210 anos, em Viena: um concerto memorável que havia de ser a despedida de Ludwig van Beethoven (1770-1827) como solista ao piano, e no qual foram tocadas oito grandes peças, incluindo as estreias da Fantasia Coral, uma ária (a notável Ah, Perfido), três dos andamentos da Missa em Dó Maior e ainda duas das suas grandes sinfonias, a 5.ª e a 6.ª (Pastoral). Das seis e meia da tarde até às dez e meia, durante quatro horas – com um pequeno intervalo – a música inaugurou aquele inverno num teatro gelado e cheio de gente, não só celebrando o génio de Beethoven mas também a grandeza interminável da música. Pode ser uma boa maneira de começar este inverno.

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