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É difícil fazer o elogio do futebol nestes dias, depois dos acontecimentos violentos de Buenos Aires — mas também depois de parte do “futebol português” se ter transformado num ringue para energúmenos armados, traficantes, advogados e polícias se cruzarem fora e dentro dos estádios. O problema está na génese do próprio futebol. O editor e psicanalista Vasco Santos publicou recentemente um artigo (no blogue da Sociedade Portuguesa de Psicanálise) sobre o futebol como um jogo de substituição dos próprios jogos de guerra; ele tem razão — a fé na tribo substitui a avaliação e a ponderação. Mas quem quer ver ponderação num jogo de bola? O ideal era que violência e paixão pudessem estar separadas por um dique. As grandes lições sobre futebol, de Camus a Assis Pacheco, passando por Galeano ou Valdano, e estou a saltar por alto, falam da beleza pura, acessível a todos; aí, um golo pode ser um relâmpago no céu mais negro; ficamos deslumbrados quando isso acontece. Infelizmente, a malandragem (a rapinagem, abjeta e poderosa) rouba sempre esse prazer. O espectáculo foi tomado de assalto.
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