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Deus sabe como gosto de Montreal. Tem boas livrarias, os melhores restaurantes do Canadá (os portugueses estão no topo, aliás), cervejas artesanais de primeira ordem, a casa de Leonard Cohen no meio do bairro português, um certo gosto em receber, poesia portuguesa nos bancos de rua do Boulevard Saint-Laurent, o Velho Porto, as florestas e as baías do Quebec, ou o restaurante Schwartz; enfim, uma boa lista (claro que há coisas menos boas, como hóquei no gelo e Céline Dion). Acontece que o governo da província, o Quebec, decidiu encerrar as suas 12 lojas de canábis (cuja venda foi liberalizada em outubro no Canadá – há um total de 132 no país) durante metade da semana. Porquê? Repressão? Nada. Simplesmente, a canábis esgotou nas lojas. Outro dia, um jornal dizia que a erva, para fumar, se destina a “aliviar a tensão em pessoas com barulho criativo ou social”; bela metáfora. Os polícias de Montreal, que foram autorizados a fumar erva, têm agora um problema entre mãos, que é o de vigiar a situação de alarme social e fúria provocada pela falta de produto. O clima do Canadá é pedra.
O problema americano é o da sua criancice. Ao olhar os resultados e ler os comentários sobre as eleições intercalares dos EUA, ficamos com a impressão de estarmos num jardim infantil onde cada criança quer a sua dose exagerada de atenção; um político é, sobretudo, ou um farsola cheio de si, que se pode apreciar pela sua jactância e detestar pela grosseria – ou um terapeuta que promete aliviar problemas hormonais e apaparicar com desvelo os seus pacientes. Não se pede a nenhum deles que seja um génio à dimensão de John Hay ou Henry Adams, que desenharam o século XX americano; mas ao menos que interprete a grandeza do país. As estrelas de Hollywood (um grupo nefasto de parlapatões) e os grupos identitários de sexo, etnia e outras classes, minaram o campo democrata, que é um saco de gatos a miar de histeria; oportunistas e populistas canalizaram a sua fanfarronice para o lado republicano, desonrando com deselegância a sua tradição conservadora. Num mundo à beira de vários precipícios, os EUA, com estes bandos de crianças, não têm nenhuma mensagem interessante ou digna para partilhar.
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