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O livro de Harper Lee, Não Matem a Cotovia (To Kill a Mockingbird também traduzido entre nós como Mataram a Cotovia, uma história sobre o racismo no sul dos EUA) foi eleito “o livro mais amado pelos americanos” numa votação iniciada na primavera passada pela rede pública de rádio e tv, PBS, e na qual participaram vários milhões de leitores. Os outros livros finalistas (de uma lista de cem) foram as séries Outlander, Harry Potter e O Senhor dos Anéis, além de Orgulho e Preconceito – a cerimónia (porque foi uma festa) foi apresentada na televisão americana por Meredith Vieira, uma jornalista de origem açoriana (do Faial), já agora. Acredito que Os Maias, de Eça de Queirós, seria o livro mais votado numa hipotética iniciativa portuguesa – assinalam-se agora os 130 anos da sua publicação (em 1888) e vai ter lugar em breve um colóquio na Fundação Gulbenkian. Nem de propósito, o livro esteve para ser retirado da lista de leituras obrigatórias do ensino secundário, pois era essa a intenção das autoridades. Seria um crime que, por pressão pública, não foi cometido.
É evidente que há um problema com o uso da internet – a velocidade. Italo Calvino definiu a “velocidade” como uma das ideias fortes do milénio, por oposição à lentidão, ao recolhimento ou à ponderação. Os vídeos “virais” que todos os dias povoam a internet são o produto dessa exigência de velocidade. É por eles que circulam as “fake news” e é neles que se expõe o pior e mais grotesco ou abjeto dos utilizadores. A solução dos censores habituais, ou a dos que pensam que podem moderar a ordem das coisas por decreto (porque são mais inteligentes) é a de estabelecer um controle ideológico sobre a imprensa e, por extensão, sobre a internet. É impossível. Proibir a velocidade da internet (do Whatsapp, do Facebook, do Twitter) para impedir as “fake news” exige um esforço descomunal – e sem garantia de sucesso. Essa velocidade é o resultado do otimismo dos que garantiam estar aí um admirável mundo novo. Um dia, é provável que voltemos à lentidão, à consistência, à humanidade como ela teria sido. Mas a censura é a pior forma de sonhar com esse dia. Seria uma tirania intolerável.
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