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O material é o material.

por FJV, em 03.08.18

O assunto merece insistência: há mais de um ano (repito: há mais de um ano) desapareceram de umas instalações militares em Tancos umas caixas de munições, explosivos, seja lá o que for – “o material”. Escândalo. Houve militares suspensos. Peregrinações a Tancos. O senhor Presidente da República, como deve, pediu esclarecimentos. Os generais prometeram informações. O senhor ministro da Defesa – que é um cómico – afirmou que, no limite pode nem ter havido furto; toda a gente riu da pilhéria. Passado um ano apareceu “o material”. As autoridades rejubilaram porque era mais “material” do que “o material”. O senhor ministro piscou os olhos e imitou um esgar. Entretanto, soube-se que era mentira – e que na lista de “o material” faltava ainda “material”. Entretanto, o chefe do Exército foi ao Parlamento (a quem declarou, magnanimamente, que não sabia o que estava ali a fazer) e, perguntado sobre “o material”, diz que não pode dar informações sobre ele (nem teve tempo para o ver), nem sobre o que ainda anda aí à solta. Espera-se que o Supremo Chefe das Forças Armadas – o Presidente da República – ponha isto na ordem.

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Celeste.

por FJV, em 02.08.18

Como não sou um ouvinte regular de fado, o nome de Celeste Rodrigues foi para mim, durante muito tempo, apenas o da irmã de Amália. Erro crasso. Nos últimos anos li três ou quatro entrevistas suas – e foi uma descoberta. Havia ali um despudor, um atrevimento, uma independência de caráter que ultrapassava de longe aquele laço familiar. Língua afiada (como a de Beatriz da Conceição, um demónio em chamas) e, no entanto, uma serenidade sem cedência na maneira de pensar. E uma memória que traduzia uma vida vivida. Pus-me a ouvi-la; “Tu Não me Digas”, “Meu Corpo”, “A Lenda das Algas” ou “Na Esquina da Minha Rua” bateram fundo – talvez aquilo fosse o fado de antanho (que eu desconhecia), genuíno, aquela ironia no grão da voz, qualquer coisa que arranhava um pouco e deixava um sulco, um eco numa sala silenciosa. Lamento não ter sido seu admirador em devido tempo. O fado passa-me ligeiramente ao lado; mas de entre as canções que hei-de recordar há de contar-se uma de Celeste Rodrigues como um sinal de qualquer vida eterna e de um destino invulgar em que poisou o talento. Ouçamo-la. 

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Leituras de férias.

por FJV, em 01.08.18

De repente reparo que, dos nove livros que trouxe para férias, seis deles eram exemplares já muito usados e tinham sido lidos várias vezes. Não são apenas romances – a maioria não o é: História, espionagem (John Le Carré), ensaios sobre a Grécia antiga, até economia. E uma antologia de poesia. Coisas em papel. Num deles releio a história do pergaminho e do palimpsesto: devido ao seu preço, quando um livro estava muito usado ou continha “ideias nefastas”, raspava-se a pele e escrevia-se por cima, uma coisa sobre a outra; é isso o palimpsesto, uma coisa sobre a outra – e, um dia, a revelação da mais antiga. Se um monge do século XI não apreciasse Cícero podia copiar para o pergaminho um texto do Evangelho ou a regra da ordem de São Bento, que instituía o “dever de ler”, por exemplo. Hoje, felizmente, não apagamos os livros das férias: os meus sobrepõem-se (e reparo que um deles me acompanha há mais de vinte anos, os cantos dobrados, com areia e sublinhados de épocas diferentes). Hoje é 1 de agosto – se há quem não leve livros para as férias, volte atrás e repesque um. Pelo menos.

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