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Beijinhos para a senhora Le Pen.

por FJV, em 15.08.18

Se bem que pelo menos um quarto dos oradores convidados sejam mais do que dispensáveis, não se sabe o que passou pelo cerebelo dos organizadores para convidar Marine Le Pen a vir à sessão da WebSummit de Lisboa. Talvez ouvi-la, mas nunca se sabe. O absurdo seria idêntico se se convidassem Trotsky, Estaline, Franco ou o antigo diretor dos Serviços de Censura a ir a um debate sobre liberdade de imprensa; eu sei que a analogia parece imprópria (não é), mas a cosmogonia da globalização e da internet não têm nada a ver com Marine Le Pen. Um absurdo. Mas esta é a cacofonia da própria WebSummit: um evento pop em que certas pessoas se conhecem e talvez façam negócios (10%, no máximo, ao que se sabe), e onde a generalidade dos discursos festeja o próprio acontecimento de tablet na mão. Nada contra; somos um país de turismo e a WebSummit é um instrumento interessante e útil. Quanto à questão política: não se tratava de proibir Le Pen de vir ao acampamento – mas, simplesmente, de não convidar a senhora; melhor do que desconvidá-la e dar-lhe palco. Para populistas, já cá temos.

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Ver o mundo.

por FJV, em 15.08.18

Não sei se recordam a passagem de Os Maias em que João da Ega se manifesta contra o perigo de levar a civilização até às mais recônditas paragens do globo. Segundo o Ega, isso seria péssimo para o turista que, depois de muitos sacrifícios para chegar a Tumbuctu, encontrava lá, afinal, cavalheiros africanos de cartola, civilizados, a ler o Jornal dos Debates. Nessa altura já se conhecia o nome do Sr. Thomas Cook (1808-1892), que não só criou as viagens de grupo em comboio, como inventou os vouchers de hotel e a indústria moderna do turismo. A agência de viagens que leva hoje o seu nome decidiu indemnizar uma cliente, Freda Jackson, súbdita britânica que foi para Benidorm, uma conhecida selva de Espanha – onde contava fazer férias (conta o CM). Não pôde: no hotel havia, queixa-se ela, “demasiados espanhóis”, rudes e barulhentos. Além disso, a “animação local” era dirigida a espanhóis, coisa que não se entende sobretudo porque Benidorm fica, aparentemente, em Espanha. Ms. Jackson tem toda a razão: que ideia absurda, a de haver espanhóis em Espanha. Toma lá, João da Ega.

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Banir o passado.

por FJV, em 15.08.18

Para sermos justos, o poema “Se”, de Rudyard Kipling (o autor de ‘O Livro da Selva’), só se aprecia verdadeiramente no original, “If”. Mas todos o conhecem: “Se fores capaz de sonhar sem deixar que os sonhos te escravizem...” Foi escrito para o filho, em 1895 – e é considerado um dos mais representativos da língua inglesa. Na universidade de Manchester, onde estava afixado numa parede, foi tapado pela associação de estudantes – que não tem nada contra este poema de Kipling, mas contra o “colonialismo do autor” – e substituído pelo belo poema da poetisa negra americana Maya Angelou “Stil I Rise” (“Podes inscrever-me na história/ com as mentiras amargas que contares./ Podes arrastar-me no pó/ Ainda assim, como pó, vou levantar-me...”). A razão terá a ver com o alegado “racismo” e o “imperialismo” de Kipling (apesar do belo poema) e com a necessidade de “descolonizar a universidade”. Contaminar o passado a partir do presente tem a sua razão de ser, mas é idiota. Por aquelas cabecinhas não correu a ideia de colocar os dois poemas lado a lado; precisam de banir o que não cabe lá dentro.

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