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A Alfaguara, que já tinha publicado Submissão, de Michel Houellebecq, bem como Extensão do Domínio da Luta e O Mapa e o Território, publica agora A Possibilidade de uma Ilha, um romance (de 2005) perturbante e cruel que volta a obrigar-nos a pensar no Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley: uma descrição exaustiva e provocadora da forma como a humanidade se foi desumanizando. Para o fazer, Houellebecq não fala da solidão, nem tem sentimentos piedosos, cúmplices, poéticos, cheios de amor – pelo contrário, chega a ser obsceno, sempre mordaz e a rondar o abismo, contando a história de um mundo em que os homens e as mulheres se tornaram imortais, quase perfeitos, mas inevitavelmente imbecis. A “literatura estabelecida” não gostou, porque o seu negócio são os “bons sentimentos”, em aliança com as “boas políticas” e as “palavras corretas” de escritores laureados. Tudo lerolero – e do mais cretino. A verdade é que a imbecilidade e a desumanização cresceram de mãos dadas com as boas intenções – nada que não nos falte com esta gente que ascende ao poder para nos purificar.
[Da coluna no CM]
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