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Há personagens assim em Stendhal, que passa por ter uma alma sensível. Porém, o espectáculo dos últimos dias é tão sabujo como o da ‘Comédia Humana’ (Balzac conhece os fígados de um traidor): velhos companheiros, antigos comparsas de mesa e pucarinho, amantes desoladas (o tempo passa depressa, afinal), serviçais que agora se vingam de humilhações, oligarcas que já não acham graça à picardia, rivais que finalmente desembainham a navalha. Os que eram surdos, os que eram mudos ou nunca tinham visto nada, os que juravam fidelidade – canina, claro, sempre canina, ontem como hoje. Em breve serão os banqueiros, depois os ordenanças, os intriguistas que passam de um dono a outro, os distraídos que nunca deram por nada, os que lucraram com o derriço e passaram bem. Todos querem salvar a pele, se possível aparentando escândalo; Sócrates já não lhes interessa e estão dispostos a abandoná-lo. Uns, por motivos de classe; outros, porque nunca fizeram outra coisa senão trair para permanecer à tona; outros, ainda, por conveniência sensual. Ou porque finalmente viram a luz. É a vida, portanto.
[Da coluna no CM]
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