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Numa entrevista recente, Gay Talese (nascido em 1932, é um notável jornalista americano, autor 14 livros de reportagens e memórias) faz uma espécie de ponto da situação sobre o jornalismo de hoje. “A maior parte da gente da minha geração éramos ‘outsiders’ do poder. Agora, os jornalistas vêm da mesma classe social da gente do mundo financeiro ou político; andam nas mesmas universidades e os filhos aprendem a nadar nas mesmas piscinas. Partilham a mesma linguagem e os mesmos valores.” Com poucas diferenças, isto ocorre com a maior parte dos comentadores dos grandes casos judiciais portugueses: ou partilharam as cadeiras do poder, ou serviram no seu exército de lealdades, ou jantaram e dançaram juntos em algum lugar. Haver gente que mexe com tantos milhões, com tantas cumplicidades e com tanto desplante, pode surpreender o leitor – mas não é coisa que os choque, porque esses milhões, essas cumplicidades e esse desplante fazem parte do seu mundo. Não se impressionam. O que os impressiona e choca é que a justiça tivesse chegado aos seus amigos, com quem tanto gostaram de jantar.
[Da coluna no CM]
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