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O Presidente da República não precisava de um grande discurso – mas, como é seu costume, deixou um mistério no ar: a crítica clara e não-velada ao providencialismo e ao populismo, que o primeiro-ministro comparou, com infelicidade, à arte moderna: tal como é difícil compreender a “arte moderna”, também não entende os “discursos modernos”. Estas bandarilhas estão entre a chufa e o burlesco e não passam daí (o dia não servia para acertar contas mas para que a data, que é de todos, voltasse a ter donos). O problema é que Marcelo tocou na ferida ao falar da ameaça populista. Se não fosse a indiferença nacional – o nosso maior pecado – em relação ao poder e às suspeitas que pairam sobre os políticos, podíamos reunir todos os ingredientes favoráveis ao populismo. Vale-nos a indiferença (e a brandura, que desculpa tudo). Só ela permite que o presidente do parlamento continue a confundir críticas aos políticos com ataques de caráter. Ora, no Parlamento havia um grande elefante estacionado no meio da sala: a suspeita sobre os políticos, não sobre o sistema nem sobre a arte moderna.
[Da coluna no CM]
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