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Naquela altura não havia hipsters, nem empreendedorismo, nem subsídios ou pão para malucos. Mas, felizmente, houve uma geração que soube viver acima das possibilidades do país e da inteligência média habitual – e que libertou a velha pátria do neo-realismo e da sensibilidade de alcoviteira. O Manuel Reis (1946-2018) foi uma estrela nesse céu do Bairro Alto lisboeta, lugar onde, durante algum tempo, se podia encontrar uma parte do mundo a dançar no Frágil. Essa Idade da Prata era tão frívola como se podia ser em Lisboa, mesmo para um rapaz como eu, que tinha chegado de Trás-os-Montes há pouco tempo. O país mexeu-se aqui e ali a partir daquele empurrão. Os lugares que ele inventou fizeram mais pela libertação sexual e cultural da rapaziada do que os ideólogos e engenheiros sociais posteriores. Manuel Reis (o tipo que criou o Frágil, o Pap’Açorda, a Loja da Atalaia, depois o Lux e a Bica do Sapato) era discreto (falava pouco, era da província) e inovador, conhecia o risco e a graça de olhar as coisas de cima – e sem ter de esperar na fila para entrar. Foi o primeiro a fazê-lo numa Lisboa de papalvos. Lá de cima – o lugar onde está, naturalmente.
[Da coluna no CM]
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