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Ilha de Moçambique

por FJV, em 28.02.18

Mandam os calendários dizer que amanhã, 1 de março, se cumprem 520 anos sobre a chegada de Vasco da Gama à Ilha de Moçambique – um pequeno território de 3 quilómetros de comprimento, a cerca de 2500 quilómetros da capital, ligada a terra por uma frágil ponte que sobrevive ao sal e à erosão. Antes de ser primeira capital da colónia portuguesa, Muhipíti (o nome macua) era já um grande entreposto comercial que ligava o Índico às carreiras para a Pérsia, o mar vermelho e o resto da Ásia – e continuaria a sê-lo até finais do século XIX, nomeadamente devido à escravatura. Conheci ainda o velho xeique Abdurrazaque Djamú, que partilhava com o Padre Lopes o pastoreio das almas nos momentos difíceis: muçulmana, cristã e brâmane, “a Ilha”, Património Mundial da Unesco (uma arquitetura notável), recebeu Camões e Tomás Gonzaga, Rui Knopfli (que lhe dedicou um livro, A Ilha de Próspero), Jorge de Sena ou Alberto de Lacerda. Mia Couto escreveu partes dos seus livros com este cenário, onde hoje vive J.E. Agualusa. 520 anos depois, com a sua beleza recuperada, é finalmente “a ilha de todos”.

[Da coluna no CM]

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Neve.

por FJV, em 28.02.18

Telefonaram-me a avisar: “Lembras-te daquele caminho que subíamos na serra e que se enchia de neve quando éramos miúdos? Está outra vez coberto de neve.” Não nevava ali há dez, onze anos. Peço desculpa aos lisboetas para quem a neve é um episódio de “férias de inverno”, chique e vagamente nos Alpes, mas a aldeia onde eu vivi parte da infância ficava isolada pela neve durante semana e meia, todos os anos. Sem correio, sem autocarro, sem aulas durante um ou dois dias. E havia frio porque era inverno. Há três semanas, a Proteção Civil e a imprensa coligaram-se para decretar que Portugal era uma espécie de icebergue; o alarme irritou-me: havia sol e, como estava de viagem, verifiquei que os picos da Serra da Estrela estavam escuros como num dia de verão. Ontem, ao fim da tarde, o tom de tragédia regressou, mas foi acompanhado do telefonema familiar: onde há trinta, quarenta anos, nevava todos os anos, voltou a nevar. Eu sei que é mau para o lifestyle lusitano, que promulgou uma meteorologia eternamente estival e de manga curta. Bem vinda sejas, neve. É inverno. Como deve ser.

[Da coluna no CM]

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