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O meu amigo Mário Sabino (autor do belo romance O Vício do Amor e do mais famoso O Dia Que Matei Meu Pai), paulista de sempre mas de costeleta carioca, usa uma boa frase para esta ocasião: “Tem coisa mais insuportável do que o carnaval? Tem. O próximo.” Vivesse Mário Sabino em Portugal, e riria do assunto, longe do batuque e das ruas suadas do Rio, Salvador ou Recife: não há coisa mais absurda do que o carnaval lusitano – ele traduz uma incompatibilidade genérica dos portugueses com o país: gostam de foliar, mas na verdade preferiam outro país. Não há inadequação mais profunda do que os desfiles lusitanos: biquínis em pleno inverno, carnes branquinhas – promissoras, vá lá – resistindo ao vento gelado da segunda semana de fevereiro, sambistas de empréstimo rodopiando. E gente feliz, é preciso dizer, esperando os desfiles e suportando o frio. Todos os anos acho absurdo, feio e despropositado o carnaval lusitano; e, no entanto, há nele uma réstia de admirável resistência, militando contra o inverno, fingindo aromas do trópico ou gingando sem arte nem talento. Até ao próximo.
[Da coluna no CM]
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