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Ao longo do segundo mandato de Lula sucederam-se os escândalos e os processos judiciais por corrupção. Hoje parece que toda a gente já esqueceu o mensalão e toda a rede de malfeitores que nasceu da tentativa, bem sucedida, de aprisionamento do aparelho de estado pelo PT (recordem-se os nomes: José Dirceu, José Genoíno, Marcos Valério, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, etc.). A aliança entre o PMDB, os evangélicos e o PT era contranatura, mas serve para dar uma ideia de como o PT estava disposto a sacrificar tudo para subir ao poder e mantê-lo, numa rede em que entravam, além do PT, o PP, PPS, o PSB ou o PRP). Valeu tudo: manietar a polícia, a justiça e o estado central; atacar a imprensa e fazer alianças com os inimigos de classe, generosamente recompensados (de Maluf a Delfim Netto, de Sarney a Edir Macedo); constituir o PT como máquina de arrecadação e domínio; crime e difamação; perseguições (vale a pena reconstituir a perseguição racista a Joaquim Barbosa, presidente do Supremo) e favorecimentos ilícitos (a começar na Petrobras). Dilma foi um prodígio de incompetência; um interregno no projecto mais vasto de Lula, que era regressar ao poder. A sua aliança com o PMDB – um casulo de corrupção medonha – resultaria nisto. Quando o PT quis recorrer à rua, percebeu que esta não só já não era um exclusivo seu, e que, do outro lado, uma nova geração de juízes e magistrados tinha chegado aos tribunais brasileiros, livres do jargão esquerdista e da herança da ditadura (o PMDB é uma herança envenenada da ditadura, nada tem a ver com o partido de Ulysses Guimarães ou Tancredo). Os processos actuais põem à vista uma rede que visava a eternização do PT e dos seus aliados no poder – bem como formas de corrupção que atingem todo o Estado. Durante as sessões de Porto Alegre, o PT ameaça radicalizar (vejam-se sobretudo as declarações de Gleisi Hoffmann, a presidente do partido, envolvida no escândalo Petrobras) e é possível que seja o único caminho. Seguir-se-ão as jornadas de luta e de desagravo por intelectuais, sindicalistas, cantores e “amigos do Brasil” (geralmente, pessoas que gostam de bossa nova e confundem Ipanema com a Rondónia) – mas a verdade é esta, dita hoje de manhã por Fernando Gabeira: “A tática da defesa do Lula e toda essa opção da esquerda nos colocou diante de um descaminho histórico. Porque ao invés de reconhecer todos os escândalos que aconteceram e buscar um caminho mais longo de recuperação através de uma crítica, de uma autocrítica, ela decidiu negar o conjunto dos fatos.” Um dos argumentos é o de que a justiça está a atacar a esquerda, o que é falso (veja aqui a lista de dirigentes de outros partidos, como o PMDB, PTB e PP já condenados no processo LavaJato); tem sido a esquerda brasileira a condenar-se a si mesma num país em que o PT chegou ao poder vestindo a roupagem da superioridade moral. Posso enganar-me, mas Lula – que sabia de tudo, que soube sempre de tudo, mas que se achava ungido com a estrela de guia e messias do proletariado brasileiro a quem tudo seria perdoado – será condenado, ou seja, será confirmada a condenação anterior. O pior para Lula, de facto, ainda está para vir. Mas eu tenho-o dito desde 2003.
P.S. - Ironia do destino este julgamento estar a realizar-se em Porto Alegre, em outros tempos um bastião do PT.
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