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Simone de Beauvoir, em casa de Nelson Algren. © Art Shay.
É provável que O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, seja, de facto, uma das obras mais marcantes do século XX – mas a extraordinária projeção de Beauvoir vem do facto de ela própria ser uma figura romanesca, uma pensadora complexa, dificilmente classificável, impossível de limitar ao quadro apatetado de qualquer militância, que a sua vida ultrapassou sempre. Um dos elementos que mais contribuíram para a riqueza da sua obra foi, precisamente, o seu apreço pela ambiguidade – conceito a que dedicou um dos seus ensaios mais notáveis –, tanto na sua vida política como na vida pessoal e nos relacionamentos amorosos (o mais famoso deles, o americano Nelson Algren) que manteve a par do seu “contrato” com Sartre. O feminismo atual deve-lhe quase tudo, mas as mulheres devem-lhe mais: além dos dois volumes de O Segundo Sexo, Beauvoir é a autora de romances como Os Mandarins (um retrato da sua intimidade e daqueles relacionamentos), Mal-Entendido em Moscovo ou vários e importantes volumes autobiográficos. Ontem passaram 110 anos sobre o seu nascimento (1908-1986) mas não se ouviu uma única evocação, o que foi uma pena.
[Da coluna no CM]
Tenho um gosto desgraçado por cantores vagamente pirosos e Domenico Modugno, além de estar no pódio dos génios da “música ligeira”, tem uma vantagem soberba: era italiano (de Bari), cantava em italiano e resumia a “figura do italiano”, como Mastroianni. No dia de hoje completaria 90 anos (nasceu em 1928; morreu em 1994, na bela ilha de Lampedusa). Ouço-o muitas vezes (tal como a Gianni Morandi, Adriano Celentano, Sergio Endrigo ou Jimmy Fontana – e conheço as letras). Passando por alto a sua carreira no cinema (atuou em mais de 40 filmes) e na política (deputado do Partido Radical, envolvido em causas públicas), a voz de Modugno comove-me de cada vez que oiço “La Lontananza” ou os seus clássicos “Piove” (ou “Ciao ciao bambina”), “Come prima”, ‘Notte lunga notte’, ‘Dio come ti amo” (há um dueto fantástico com Gigliola Cinquetti) ou, claro, o grande “Nel blu dipinto di blu”, conhecida como “Volare” nas versões de Sinatra ou Dean Martin. Modugno era um poeta (colaborou com Pasolini e Salvatore Quasimodo) e um instrumento da melancolia romântica desses anos 60 italianos. Eterno.
[Da coluna no CM]
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