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O secretário-geral do PCP é uma pessoa que me inspira simpatia – mas não condescendência. E a simpatia que Jerónimo de Sousa inspira não serve de contrapeso para condescender com o secretário-geral do PCP quando, inspirado pela fé e, certamente, pelo hábito, fala sobre a Revolução Soviética – e, embalado numa homilia sem fim nem começo, redonda como a cúpula do Kremlin, mistura o seu sermão com propaganda rebuscada de O Militante de há quarenta anos. Explico: uma coisa é defender aquilo que Jerónimo defende na vida portuguesa; outra coisa é, pisando sobre a verdade (o seu texto sobre a revolução no DN é um exemplo), os factos e as evidências, tecer loas ao totalitarismo, esquecer os milhões de mortos dos regimes socialistas (que deve tratar como um ligeiro desvio) e, por extensão, festejar o pacto Estaline-Hitler, o terror de Lenine ou os campos da morte no Camboja – precisamos de saber o que pensa sobre o assunto. De qualquer modo, assinalou-se ontem a queda do Muro de Berlim e muitos ocidentais, extasiados, puderam finalmente pedir asilo político na ex-RDA ou na URSS.
[Da coluna no CM]
Morrer de amor. Já não se usa, já não acontece – e não se recomenda. Camilo Castelo Branco, ele próprio (que tantas histórias de amor de perdição escreveu), desconfiava da nossa capacidade para morrer de amor. A própria palavra, “amor”, tem os seus dias contados: curte-se bastante; combinam-se vidas; acontecem encontros – mas as histórias de amor são secretas, castas e desconhecidas (Nelson Rodrigues, um dos maiores génios brasileiros, dizia que o pudor é o melhor dos afrodisíacos). O CM de ontem, no entanto, conta em breves linhas uma das mais tristes histórias de amor deste tempo de banalidade: o casamento da guineense Celeste Biagué com o seu namorado Rui. Celeste, 42 anos, morreu de ataque cardíaco na altura em que se preparava para atirar o buquê de flores às suas convidadas, e, portanto, passar aos outros a sua história de amor. Vendo as fotos desse casamento – o vestido de noiva, o riso de Celeste e Rui – não celebro senão a tristeza das vidas interrompidas. Só nos damos conta da necessidade de histórias de amor quando alguém vive a tragédia dessa interrupção.
[Da coluna no CM]
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