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A feminista Camille Paglia acha que os homens são predadores por natureza. A avaliar pelas denúncias de assédio e abuso sexual no universo de Hollywood e seus arredores, Paglia (acaba de publicar Free Women, Free Men) tem razão. Há uma matriz nestes atores, realizadores e produtores de cinema agora denunciados e durante muito tempo protegidos – o abuso de poder e o cumprimento da sua missão venatória, hoje (felizmente) criminalizada. De resto, a cultura pop, dos anos 60 até hoje, é profundamente marcada pelo sexo – e pela sua banalização crescente e totalitária. Nada a fazer. Falar de uma “educação para o pudor” é uma velharia que se admite a dinossauros, ascetas ou cavalheiros, mas que não garante a aura de ídolo pop no mundo do cinema e da música (nem na universidade ou na política, como veremos nos próximos tempos), onde as hormonas têm passaporte ilimitado. Durante muito tempo as estrelas foram desculpadas por serem talentos fatais, de Polanski a Harvey Weinstein ou Brett Ratner (cada caso é um caso), eles próprios fabricados nesse mundo. Velhas histórias da indústria pop.
[Da coluna no CM]
Levanta-te da tumba, Mark Twain, e desata a chicoteá-los – é o mínimo que se pode pedir depois de os polícias do “politicamente correto” terem proibido a leitura, em certas bibliotecas e escolas, de livros como Huckleberry Finn ou Tom Sawyer, por neles se utilizar a palavra ‘nigger’ par significar ‘negro’, hoje um termo depreciativo. Mark Twain passou, assim, a ser um descarado racista, da mesma forma que os “defensores dos animais” exigiram a proibição de Moby Dick, de Hermann Melville, porque retrata o terrível combate entre o capitão Ahab e a baleia branca que elegeu como inimiga. Ora, no meio da balbúrdia que foi montada para vigiar a linguagem, um dia isto teria de acontecer: numa escola americana – do Mississípi, ainda por cima – a leitura de Não Matem a Cotovia, de Harper Lee, só pode ser feita com uma autorização expressa dos pais, uma vez que se usa a palavra ‘nigger’ – e essa expressão racista, bem como muita da linguagem do livro, pode incomodar muitas almas sensíveis das crianças que, tal como nós, odeiam o racismo. Um dia isto teria de acontecer. E é trágico.
[Da coluna no CM]
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