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Mugabe travado na ONU.

por FJV, em 23.10.17

Não demos o devido destaque à nomeação do ditador Robert Mugabe, o nazi de Harare, Zimbabué, como “embaixador da boa vontade” da Organização Mundial de Saúde. Na verdade, a notícia não é essa mas sim o facto de a OMS ter “repensado” a sua decisão e ter-lhe retirado o honroso encargo. Isto foi tão chocante que deixou o mundo em silêncio. Bem vistas as coisas, Cuba, China, Venezuela, Congo e Arábia Saudita estão no conselho de direitos humanos da ONU – Mugabe podia ser nomeado rainha de Inglaterra que ninguém ia protestar. Aliás, Mugabe (acusado de roubo, genocídio, limpeza étnica e massacres contra a oposição) foi nomeado pela ONU, em 2011, embaixador para a área do turismo (não riam já), ao lado de personalidades como Drew Barrymore, David Beckham, Orlando Bloom ou Ricky Martin. A ONU tem vindo a servir-se do dinheiro de todos os países para promover agendas ideológicas particulares (no caso da UNESCO) e prestar servicinhos a tudo quanto é ditadura da linha da frente. Se este recuo da ONU se fica a dever a António Guterres, trata-se de um grande triunfo do seu mandato.

[Da coluna no CM]

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Um caso de manicómio

por FJV, em 23.10.17

Um tribunal do Porto cita a Bíblia – e um precioso código de antanho – para despenalizar a violência de um marido que já não o era. Justifica-se: há partes da Bíblia que decretam a pena de morte por bem menos, e estou a ver os juízes a usar o Levítico e o Deuteronómio no dia a dia, decepando filhos e noras por comerem toucinho. Eis o que aconteceu segundo o relato do meritíssimo: Y, rejeitado amante de A, raptou-a, trancando-a no carro – e chamou o marido traído, X; este, comparecendo de moca, agrediu a antiga esposa, enquanto Y desandava. Isto é uma história de Camilo Castelo Branco em Felgueiras: um amante cobardolas mancomunado com um ex-marido despeitado (o que há mais). Que seja assim na literatura, ou na vida real, ou num filme de Almodóvar, entende-se; mas que um juiz decida que, para cumprir o argumento canalha (e não a lei), seja necessário humilhar e desrespeitar uma mulher livre, desculpabilizar amante e ex-marido (porque andavam deprimidos por causa do adultério), é caso de manicómio. Em Camilo, ao juiz, ao amante e ao ex-marido, já lhe tinham traçado o destino. E bem.

[Da coluna no CM]

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