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A “Operação Marquês” vai arrastar-se pelos tribunais nos próximos dois anos – será pasto de “manobras judiciais”, discussões sobre provas, suspeitas e desmentidos, argumentos e barulheira. Mas é sobretudo um retrato do país e das oligarquias que se instalaram em redor do Estado e lançaram as suas redes por todo o lado – porque, também elas, têm horror ao vazio. É uma misturada: capital financeiro, negócios favorecidos pelo Estado e pelas grandes corporações, capacidade de influenciar e de destruir, de roubar e de tirar partido mas, sobretudo, de usar o poder em nome das suas famílias. No fundo, dois séculos de história. Pega-se num fio, e vamos dar aos arrivistas que chegam à política vindos da província e que querem enriquecer “como os outros”, que já são ricos e têm pé de meia. Pega-se noutro, e chegamos à perigosa endogamia da banca e dos negócios – gente que sabe pagar os seus serviços. Pega-se num outro e deparamos com serviçais que aprenderam a fazer empresas de papelão. Milhões. É um processo de milhões que se colam ao nome de gente poderosa para quem o país é um obstáculo.
[Da coluna do CM]
O Prémio Maria Isabel Barreno é atribuído a “mulheres criadoras de cultura” e não cabe aqui discutir o mérito de cada uma das premiadas (nas edições de 2013 e de 2016 – a lista foi anunciada ontem), segundo a avaliação da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género e de um departamento do Ministério da Cultura. Pelo contrário: há quase unanimidade na apreciação desses nomes – e escolher Paula Rego ou Joana Carneiro, Elisabete Matos ou Bárbara Bulhosa, Joana Villaverde ou Cristina Paiva apenas entre 52% da população (ou mulheres portuguesas da “cultura portuguesa”) acaba por, injusta e involuntariamente, reduzir-lhes o mérito: elas distinguem-se entre os 100% de portugueses, homens e mulheres. Portanto, premiar mulheres distintas por serem mulheres não é valorizar o seu lugar. Na literatura como no cinema, na edição, nas artes plásticas, no jornalismo, na invenção da vida de todos os dias, as mulheres têm um papel cada vez mais importante, decisivo – e também maioritário. Lutar pela igualdade de género “nas artes” é ridículo. As mulheres estão lá por mérito e na primeira linha.
[Da coluna do CM]
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