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Procedem-se atualmente a grandes reflexões acerca da derrota do PCP nas eleições autárquicas (sendo a do PSD muito mais fácil de explicar) – personagens graves, hirsutas, compenetradas, invocam as sibilas para tentarem perceber o que levaria tantos cidadãos e munícipes a negarem o seu voto ao PCP. O secretário-geral do partido recusa esse debate; não lhe interessa – mas, em vez de uma grande intervenção à maneira de Bertold Brecht (“dissolver o povo e eleger outro”) deixa o aviso: os apóstatas vão arrepender-se em breve, porque lhes vai faltar o braço do Partido e a áspera sapiência dos seus autarcas. As explicações são muito em surdina e assentam em vários ordenamentos sociológicos e ideológicos, como por exemplo a traição pesada que representa a aliança comunista com os socialistas, uma espécie de subserviência que os velhos militantes leninistas vituperam. Argumento sólido, sem dúvida. Mas, no meio disto, ninguém põe sequer a hipótese de os eleitores terem finalmente considerado que, cem anos depois da revolução soviética do seu destino, já não querem votar no PCP.
[Da coluna do CM]
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