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Em 1999, Alain Finkielkraut publicou um belo livro, L’Ingratitude (A Ingratidão); nele lamentava que, por vários motivos, o homem contemporâneo já não se considerava um “herdeiro” mas um ser superior que considerava o passado um lugar de exclusão, de crimes, de preconceitos e de inutilidades. De certa maneira, tratava-se do caminho da indiferença, que anda de braço dado com a ingratidão. A indiferença é o nosso mal-estar de hoje. Ela faz equivaler quase tudo: na vida política, mentira e verdade; na vida académica, o conhecimento e a fraude; na relação com os outros, o bem e o mal. Na vida portuguesa (as eleições são um exemplo), a indiferença tomou conta do eleitorado, ao ponto de ninguém desatar a rir de promessas mirabolantes e impossíveis, de candidatos estapafúrdios, ou da subtil deslocação do assunto das próprias eleições, que são autárquicas e dizem respeito ao chamado poder local. Daqui a alguns anos pagaremos – e bem – o preço dessa indiferença e do excessivo gosto pela superficialidade. O espírito do tempo tomou conta de nós todos, ignorando as lições do passado.
[Da coluna do CM]
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