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Cem anos depois não podemos reagir às eleições alemãs como Kafka (a frase é de 1914) o fez nos seus diários, naquela doce indiferença que hoje nos faz rir: “A Alemanha declarou guerra à Rússia; à tarde, piscina.” A chegada súbita da AfD (Alternativa para a Alemanha) ao parlamento já era esperada – ou seríamos marcianos – mas enfrentar as suas consequências eé diferente. Acontece que o funcionamento do xadrez mental (e não apenas político) da Europa mudou amargamente, o que contraria aquela espécie de contentamento oficial que reina a partir de Bruxelas. Onde há uns anos se esperava que os europeus votassem em função do grau de prosperidade visível, das políticas fiscais, da baixa taxa de desemprego, assistimos hoje ao renascer de “questões identitárias” e da “raiva silenciosa” que mobilizaram o eleitorado alemão em torno da AfD revisionista e xenófoba e de outros partidos no limite do sistema. Merkel, como de costume, tem razão: é necessário ouvir esse rumor para melhor o diluir (porque o Mal nunca desaparece). Frauke Petry, a líder arrependida da AfD, vai ter outros seguidores.
[Da coluna do CM]
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