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Passei parte inútil dos meus dois últimos dias em repartições públicas onde alguns dos meus semelhantes passaram também parte inútil dos seus dois últimos dias. Levei dois livros, dos quais li um (mau) e meio (bom) – e um telefone que usei para enviar sms e jogar ‘Pudding Pop’. Pelo meio ouvi talvez uma centena de conversas mantidas por pessoas que não receiam ser escutadas ao telemóvel. Questões familiares (desavenças, na maior parte); negócios (alguns fraudulentos) a fazer; apartamentos a vender ou a arrendar; arranjos de natureza íntima ou, vá lá, mesmo sexual, com dois adultérios às claras (as senhoras estão ousadas, felizmente); as aulas dos miúdos; receitas testadas ou a testar (tomei nota de um truque para fazer molho de tomate); uma jura de amor (pareceu-me falsa); uma senhora zangada que falava russo; várias tragédias familiares muito penosas; uma jovem que, tipo, se queixava de, tipo, uns pais, tipo, chatos – uma alegre convivência telefónica em alto e bom som. Somos uma sociedade aberta – e incómoda, muito incómoda. E que fala alto. Não se lhe pode baixar o som?
[Da coluna do CM]
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