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Proiba-se.

por FJV, em 15.08.17

Antigamente, havia extraordinários desejos inconfessáveis: ter uma aventura com um ator ou uma atriz de cinema, aceder a uma profissão, pensar em sexo (a maior parte do tempo) – a lista é muito variada e, ai de nós, pecadores, quase interminável. Hoje, uma das ambições da humanidade esclarecida é proibir. Proibir uma palavra, proibir açúcar, proibir uma ideia, proibir uma pessoa. Não basta não gostar, discordar, achar imbecil – é preciso proibir. Desta vez, quem chamou a atenção para o assunto foi o escritor espanhol Javier Marías. Fui ver à fonte, a imprensa inglesa: a principal associação de estudantes de Oxford quer proibir as togas (é uma questão antiga) ou, agora, proibir que existam togas diferentes. É que o tamanho das mangas das togas são importantes: se forem compridas, significam que os estudantes chegaram, digamos, ao topo e foram distinguidos de alguma maneira. A rapaziada acha que é traumatizante a exibição dessas mangas largas e compridas para os que tiveram notas inferiores – e que “perpetuam” um estatuto de desigualdade que é preciso banir. Proíbam-se.

[Da coluna do CM]

 

P.S. - A associação de estudantes de Oxford (OUSU) é especialista em pedir proibições – uma delas foi a de uma conferência da feminista Germain Greer, pelo facto de não concordarem com as suas ideias sobre género – o que não conseguiu; também tentou, e conseguiu, proibir um debate sobre o aborto (por considerar ofensivas certas ideias defendidas por dois dos participantes) e outro sobre, tome nota, «Freedom of Speech and Right to Offend».

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Os avanços civilizacionais e a avó que vai dar à luz um neto.

por FJV, em 15.08.17

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O admirável mundo novo lusitano rejubilou porque, a acreditar na primeira página do Expresso de anteontem, uma avó irá dar à luz um neto, ou seja, será “portadora” (o termo é letal) de uma criança para a sua filha, que não pode engravidar. A ideia não me enternece. Há crianças abandonadas pelo mundo fora e os números portugueses dão conta de estatísticas que devíamos baixar: repito, crianças abandonadas pelos seus progenitores. A maior parte deles é entregue às instituições sociais do Estado e podem vir a ser, ou não, adoptadas por famílias desde muito cedo. Compreendo o que dizem ser as “alegrias da maternidade” e, à distância, entendo (mas não o partilho como um valor absoluto) o desejo de perpetuar o património genético de uma família através de uma criança gerada no laboratório ou no ventre de uma barriga de aluguer. Trata-se de um manifestação moderna do egoísmo das gerações para quem não existe um impossível ou um interdito. Aldous Huxley já referia o assunto em Admirável Mundo Novo um livro aborrecido, mas premonitório. Os avanços civilizacionais são cruéis.

[Da coluna do CM]

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