Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Há coisas que acontecem à sexta-feira. Em duas linhas: Sara Carbonero publicou uma fotografia com peluches (animais!, animais!) na sua conta pessoal no Instagram. O resto é maravilhoso: leia e confira como dá vontade de rir.
Ler a entrevista com Gregorio Morán, um dos melhores colunistas da imprensa espanhola — o La Vanguardia, agora muito catalanista, acaba de despedi-lo; alguns extractos:
La manifestación por el atentado pudo haber sido un lugar de encuentro y de suavización de posturas, pero no. En el momento en que se decide encargarle el servicio de orden a la ANC, eso es como poner al lobo a cuidar a las ovejas. Era una manifestación toda ella organizada para la mayor autosatisfacción del secesionismo.
Ahora ya han empezado a decir que con un 30 por ciento de participación en el referéndum ya les vale. Si se hace este va a ser un referéndum mucho más a lo bestia que cualquiera que planteara nunca el franquismo, donde uno solo votando no era el aval de millones de votantes del sí.
A muchos nos pareció en su día una sociedad más abierta que la madrileña, por decir algo. Eso ha cambiado mucho. Ahora es una sociedad agresiva, con signos evidentes de violencia aunque no aparezcan en los medios ni se reconozcan oficialmente. La paz social de aquí ahora consiste sólo en que el poderoso no tenga contrincante. Esto es como un circo, con sus payasos, sus trapecistas, sus leones domesticados, sus monitos que hacen monerías, y la orquesta como la del Titanic, tocando en pleno hundimiento.
Tras los atentados, cuando el Ministerio del Interior daba 13 muertos, la Generalitat quería dar los menos, la cifra más baja posible. Entonces el conseller Joaquim Forn, un talibán secesionista de toda la vida, que en eso no engaña a nadie, que siempre ha sido un desvergonzado absoluto, iba diciendo que sólo había 2 muertos. Y luego que si 2 muertos catalanes y 2 muertos españoles. Y el olvido de la gran cantidad de turistas que han muerto... Claro, después de la campaña de turismofobia lanzada a bombo y platillo por la CUP, ¿qué hacemos ahora con los turistas muertos?
El CIS catalán ha hecho un análisis de las últimas elecciones, y resulta que a la CUP la votaron las clases más altas de Barcelona, el semillero de votos lo tienen en Sarrià, lo cual resulta realmente llamativo. Unamuno ya decía, catalanes, os pierde la estética. En realidad él llamaba benévolamente estética a la frivolidad, porque además ya se ha visto cómo todos estos valientes luego salen corriendo a defender su patrimonio…
Pero, en fin, si hemos resistido frente a la dictadura, cuando nos decían, si no le gusta España, váyase... Ahora te dicen lo mismo, que si no estás conforme, que te vayas de Cataluña.
Um dia vai discutir-se se a ASAE vai ou não poder entrar numa loja de brinquedos e acabar com a trampolinice que é a existência de secções para rapazes e para raparigas. O assunto não me incomoda. Ao ler o despacho exarado pela Comissão de Igualdade de Género acerca dos famosos livritos não vi nada de novo além de novilíngua e indigência. O costume, nenhuma novidade; não me interessa. Felizmente, os meus filhos são pessoas livres e não vão sujeitar-se à ignomínia de lerem livros submetidos ao exame prévio daquelas catacumbas de ressentimento. De resto, é uma guerra perdida; o único remédio é rir: basta dizer que alguém encontrou seis atividades mais difíceis para rapazes e apenas três mais difíceis para meninas – e ficou sem poder ter orgasmos durante vários dias. No Centro de Investigação 3B da Universidade do Minho, pelo contrário, trabalham 150 investigadores desconhecidos da CIG (são responsáveis por 50 patentes internacionais, em vez de fazerem ativismo de sofá). Mais de metade são mulheres. São muito melhores do que os rapazes. São o meu – e o nosso – orgulho.
O problema da Autoeuropa ultrapassa em muito a questão do Sábado. É o velho combate do PCP pelo domínio da Comissão de Trabalhadores – que lhe tinha escapado e permitido um acordo entre as partes. O PCP não esquece as traições nem contemporiza com os trabalhadores.
«Os feminismos são teorias. Eu acho que a teoria na nossa época tem desempenhado um papel terrível na política, tem desempenhado um papel terrível na arte, e também na vida.»
Não percebo o silêncio em redor desta indignidade antecipada. Melhor: percebo perfeitamente — todos os partidos têm os seus regimentos na função pública, administração pública, serviços públicos, conta geral do Estado. Só isso explica que se peça — publicamente, descaradamente — que o orçamento de Estado continue a financiar a ADSE, vejam bem, «aliviando as contribuições directas dos beneficiários». Por que é que tenho de ser eu a contribuir para «o alívio» dos beneficiários desses sistema privado de saúde?
A mensagem do Estado Islâmico para Espanha é de uma grande perversidade. Não só declara que o atentado de Barcelona foi a primeira incursão da sua jihad em Espanha (ou seja, desvaloriza o ataque de Atocha em 2004) mas insiste na memória do Califado desfeito no século VIII, e do mapa de al-Andalus. Ao longo das duas últimas décadas, uma malha de radicais islâmicos estabeleceu-se no litoral espanhol do Mediterrâneo, sobretudo em Barcelona – ao ponto de as autoridades policiais da Catalunha, para mostrarem a sua “singularidade” (face ao “espanholismo”), desvalorizarem avisos das polícias belga e francesa sobre essas células. A invocação do Califado não é inocente; a promessa da sua reconstituição está na letra do wahabismo e no espírito das alianças que no final do século XIX se fizeram nas montanhas do Iémen e que têm alimentado o fundamentalismo islâmico e o poder das grandes famílias da região. À distância, o passado faz sentido; mas para nós, que vivemos só na passagem do século XX para o XXI, julgando que a vingança estava esquecida, parece uma história de conspiração e fantasmas.
[Da coluna do CM]
Lembram-se de “One Bourbon, one Scotch, one Beer”? De “Boom, Boom”? De “Dimples”? De “Boogie Chillen”? Uma resposta: John Lee Hooker, a voz e a guitarra dos blues – no pódio, ao lado de Muddy Watters e Sam Lightnin’ Hopkins. Aos oitenta anos (em 1997), um videoclip absolutamente notável, o de “Don’t Look Back”, com Van Morrison (de quem tem duas versões de “Gloria”). Dois anos antes cantava “Too Young” no disco ‘Chill Out’, ao lado de Van, de Carlos Santana ou de Charles Brown (o de “Driftin Blues”): John Lee Hooker tinha a grande arte de arranjar companhias para fazer música – lembram-se de “Crawling King Snake” num dueto inesquecível com Keith Richards, ou o palco em que cantou “Boogie Chillen” com Eric Clapton e os Rolling Stones? Hooker transformava os blues numa festa permanente. Calçava meias coloridas, vestia maravilhosamente, a sua guitarra nunca perdeu o timbre, a voz era uma pepita de ouro que resistiu à idade, até ao fim. Morreu em 2001, calmamente (como as suas últimas canções). Completaria hoje cem anos de idade. “One Bourbon, one Scotch, one Beer” para festejar.
Os nacionalismos são geralmente imbecis – em Espanha têm a agravante de serem estapafúrdios. Veja-se Sabadell, na Catalunha: o município (uma coligação de independentistas de esquerda e Podemos) pediu um documento para mudar a toponímia local; vem daí a ideia de retirar o nome de António Machado a uma praça da cidade – por, apesar de grande poeta universal, lá no fundo ser “espanholista e anticatalanista”. À distância, o município abusou da bebida ou fumou erva estragada. O documento, muito xenófobo, exige ainda expurgar das suas ruas nomes como Goya, Calderón de la Barca, Quevedo, Góngora, Adolfo Bécquer ou Lope de Vega, acusados de terem perfil franquista – ou serem parte de um “modelo pseudocultural franquista”. Goya? Quevedo? Calderón? Sim, todos eles “ferramentas da propaganda franquista”. Há tempos, imbecis em San Sebastián quiseram mudar o nome da bela Praça Cervantes, porque o genial autor do Quixote é “espanholista”. E em Madrid, a extravagante alcaide Manuela Carmena quer mudar a estátua de Cervantes, que é capaz de ser franquista. Pobre Espanha, entregue a tontos.
[Da coluna do CM]
Não custa a admitir, como princípio, uma quota de visitantes a determinar por cidades ou países que acham que a avalancha de turistas põe em perigo o seu bem estar, o seu património ou até – no caso de o argumento ser do Bloco de Esquerda – a economia. No fundo, Veneza e outras cidades-estado adoptaram esse princípio ao longo da história. A questão está em como se procede para limitar o acesso a Dubrovnik, por exemplo, ou a Pequim, ou a Idanha-a-Nova (não falo de Barcelona antes do referendo) – os “mais ricos” que fazem reserva nos melhores hotéis e se recusam a alugar apartamentos de curta duração?; os “mais cultos”, que querem visitar os monumentos, as bibliotecas e os museus das cidades?; os que passarem num exame de etiqueta, e se verificar que nunca mijariam da varanda de um hotel de Ibiza?; os “poliglotas”, que falam a língua local?; os “gastrónomos”, que prometem tomar pelo menos uma refeição diária de faca e garfo? Os que se inscreverem primeiro na lista de vagas disponibilizada pelas autoridades ou (horror!) pelo mercado de quartos? Eis uma grande arena para discussão.
[Da coluna do CM]
Claro que ninguém fica indiferente à energia e à presença do Presidente da República no Funchal, depois da tragédia da Senhora do Monte, de Pedrógão ou de outros cenários onde os portugueses percebem que o Estado não os ignora de todo. Mas a consolação tem de dar lugar, depois, ao apuramento de responsabilidades da parte do mesmo Estado a quem os portugueses entregam os seus impostos, delegam a procura de justiça ou de segurança. Não faz sentido, por isso, que o primeiro-ministro critique o “aproveitamento político” das tragédias. Não são as tragédias que estão em causa – mas uma soma inacreditável de incompetências, mentiras, desacertos, além da descoordenação de meios e de respostas. O próprio primeiro-ministro alterou várias vezes a sua posição em relação ao Siresp, por exemplo. Não basta que faça perguntas aos seus serviços: nós fazemos perguntas; o Estado tem de dar respostas – é assim que funciona a democracia. Não se trata de “aproveitamento político” das tragédias, mas de verificar que o Estado, para o qual contribuímos mais do que generosamente, falha e mente onde não pode falhar nem mentir.
[Da coluna do CM]
Por convite do Pedro Correia, o Delito de Opinião publica esta semana um texto meu, «O tempo sem pessimistas».
O «provincianismo independentista» não esconde um certo rabo de palha: decretada a independência, terminariam estes processos que fazem da Catalunha a capital da corrupção em Espanha. O número de delitos de corrupção investigados na Catalunha é o dobro de Madrid ou da Andaluzia e 300 vezes mais do que Navarra, 15 vezes mais do que a Galiza, superior em 40 vezes às comunidades de Aragão, de Castela e Leão ou de Múrcia. Para entusiastas do independentismo catalão, ler La Soledad del Manager ou Los Mares del Sur, de Manuel Vázquez Montalbán – e comparar com as biografias políticas de alguns líderes catalanistas. O velho Tarradellas definiu a coisa como uma dictadura blanca.
Há tempos, uma dirigente socialista escreveu no Twitter um post escandalizado: então esta jornalista ainda não foi despedida? A ideia de calar os que têm outra opinião, que interpretam os factos de outra forma, que dizem uma verdade inconveniente (como era o caso), ou fazem uma piada, tem vindo ser adotada como regra. As opiniões de um funcionário num documento interno da Google foram o suficiente para que fosse despedido pela empresa porque o texto “perpetuava estereótipos de género”. A atriz Lena Dunham (série Girls) declarou no Twitter que, enquanto esperava um voo, ouviu dois empregados da American Airlines numa conversa “transfóbica” (o seu voo era noutra companhia, já agora); a companhia tratou de saber quem seriam os funcionários, para despedi-los. O comediante Bill Maher, insuspeito de simpatias republicanas (é campeão de piadas contra Trump), protestou esta semana contra o despedimento de Jeffrey Lord, um comentador pró-Trump da CNN apanhado numa piada de mau gosto – mas declaradamente piada. Há tempos, o próprio Maher usou a palavra ‘nigger’ numa piada e originou uma campanha para o seu despedimento da HBO. Está perigosa, esta coisa – e imbecil.
[Da coluna do CM]
Antigamente, havia extraordinários desejos inconfessáveis: ter uma aventura com um ator ou uma atriz de cinema, aceder a uma profissão, pensar em sexo (a maior parte do tempo) – a lista é muito variada e, ai de nós, pecadores, quase interminável. Hoje, uma das ambições da humanidade esclarecida é proibir. Proibir uma palavra, proibir açúcar, proibir uma ideia, proibir uma pessoa. Não basta não gostar, discordar, achar imbecil – é preciso proibir. Desta vez, quem chamou a atenção para o assunto foi o escritor espanhol Javier Marías. Fui ver à fonte, a imprensa inglesa: a principal associação de estudantes de Oxford quer proibir as togas (é uma questão antiga) ou, agora, proibir que existam togas diferentes. É que o tamanho das mangas das togas são importantes: se forem compridas, significam que os estudantes chegaram, digamos, ao topo e foram distinguidos de alguma maneira. A rapaziada acha que é traumatizante a exibição dessas mangas largas e compridas para os que tiveram notas inferiores – e que “perpetuam” um estatuto de desigualdade que é preciso banir. Proíbam-se.
[Da coluna do CM]
P.S. - A associação de estudantes de Oxford (OUSU) é especialista em pedir proibições – uma delas foi a de uma conferência da feminista Germain Greer, pelo facto de não concordarem com as suas ideias sobre género – o que não conseguiu; também tentou, e conseguiu, proibir um debate sobre o aborto (por considerar ofensivas certas ideias defendidas por dois dos participantes) e outro sobre, tome nota, «Freedom of Speech and Right to Offend».
O admirável mundo novo lusitano rejubilou porque, a acreditar na primeira página do Expresso de anteontem, uma avó irá dar à luz um neto, ou seja, será “portadora” (o termo é letal) de uma criança para a sua filha, que não pode engravidar. A ideia não me enternece. Há crianças abandonadas pelo mundo fora e os números portugueses dão conta de estatísticas que devíamos baixar: repito, crianças abandonadas pelos seus progenitores. A maior parte deles é entregue às instituições sociais do Estado e podem vir a ser, ou não, adoptadas por famílias desde muito cedo. Compreendo o que dizem ser as “alegrias da maternidade” e, à distância, entendo (mas não o partilho como um valor absoluto) o desejo de perpetuar o património genético de uma família através de uma criança gerada no laboratório ou no ventre de uma barriga de aluguer. Trata-se de um manifestação moderna do egoísmo das gerações para quem não existe um impossível ou um interdito. Aldous Huxley já referia o assunto em Admirável Mundo Novo um livro aborrecido, mas premonitório. Os avanços civilizacionais são cruéis.
[Da coluna do CM]
Pedro Correia sobre dois pataratas bolivarianos.
Carlos Guimarães Pinto explica como não tem sentido nenhum dizer que as pessoas estão a ser expulsas do centro das cidades — e prova-o, indicando mesmo apartamentos disponíveis a menos de 400€ mensais. Uma oportunidade para «os jovens», mesmo os do Bloco.
Nesta novela deliciosa não falta praticamente nada. O único pormenor trágico é mesmo a indiferença.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.