Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O respeito pelos mortos não pode ser limitado pelo segredo de justiça. Sublinhemos o “não pode” mesmo se isso contrariar certos juristas – porque há um sentido para a dignidade dos vivos e dos mortos, e nós temos o direito de conhecer essa condição. A forma inábil como as autoridades lidam com este problema deve-se ao facto de pensarem que tudo é responsabilidade Estado e que a verdade põe em causa a sua autoridade. Por isso, e independentemente de se duvidar da existência de uma “lista secreta” (que seria uma indignidade de patife, como escrevi ontem), não é possível nem decente invocar o segredo de justiça para impedir o esclarecimento integral do número de mortos causados pela tragédia de Pedrógão. Espanta-me a indiferença do meu país (que se escandaliza por tantas ninharias) diante deste caso. Escandaliza-me a invocação do segredo de justiça para não ser dado um nome a cada uma das vítimas. Hélia Correia escreveu um livro intitulado O Número dos Vivos; mas o país desceu tão baixo que não se inquieta com o número dos mortos nem com os que andam a silenciar os sobreviventes.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.