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Estes autores estão mortos e continuam a falar-nos apaixonadamente.

por FJV, em 13.07.17

O que pode fazer um escritor por nós? Inventar-nos. Inventar-nos outra vez, e assim sucessivamente, até nos confrontarmos com a nossa imagem no espelho do livro. É assim que acontece com os grandes autores – de Lucas e João a Shakespeare ou Pessoa, passando por Jane Austen ou Dostoievski, por Melville ou Bolaño. Não é o que dizem os sacerdotes do patrulhamento ideológico, para quem um autor é tanto “melhor” quanto mais alinhado está com as doutrinas em voga. Jane Austen, a autora de Orgulho e Preconceito (cujo bicentenário da sua morte se assinala na próxima semana), é uma conservadora (e sexista). Nos EUA descobriram que H.P. Lovecraft não pode ser lido porque, à luz da cartilha de hoje, era um reacionário com laivos de racismo, o mesmo mal que detetaram no genial Mark Twain. Já Melville, o de Moby Dick, é um homem sem piedade pelos animais, especialmente pelas baleias, e Eça é sexista e misógino. Não estou a brincar – estas classificações aparecem em trabalhos recentes. A principal acusação é a de que estes autores estão mortos e continuam a falar-nos apaixonadamente.

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