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Uma certa pessoa recomenda livros portugueses em inglês. E tal.
Nestes dias tenho receio das notícias sobre treinadores que se despedem do seu emprego, seja ele onde for. Claro que acho benigna a ideia de há treinadores que se recusam a trabalhar no FC Porto por motivos financeiros para lá do razoável – significa que algum bom senso entrou naquelas cabeças e que pode haver esperança – mas acho pior a mania de apresentar-nos um treinador-surpresa (a lista vai de Jorge Simão e regressa a Rui Barros e passa por meia dúzia de nomes espanholizantes, sem mencionar Vítor Oliveira). Como não acredito, sinceramente, que tivesse havido uma proposta séria e conforme a Marco Silva, Carvalhal ou Sérgio Conceição, o facto de não contratarem a Madonna já me parece um sinal de sorte.
Duas notas ainda: 1) depois de Lopetegui ter arrasado o balneário e deixado sementes aqui e ali, e de Nuno Espírito Santo ter querido dançar o funaná em câmara lenta, até acho plausível que os treinadores com dois dedos de testa hesitem várias vezes antes de atender um telefonema. Já vão longe os tempos em que treinar o FC Porto era ser bafejado pela sorte. Isto devia dar uma ideia, aos vários directores em exercício, da merda que fizeram. 2) também dá ideia da pouca coragem desses treinadores, que preferem trabalhar para ficar em 11.º em vez de começar por jogar na Champions – mas eles lá devem reconhecer as suas limitações.
Está a ser, vai ser, há de ser um folhetim bonito de se ver.
Ontem, depois de ter vencido o Génova (o 3-2 foi de Diego Perotti aos 90 minutos), parecia que o clube romano estava a festejar o segundo lugar no campeonato – mas não: era a despedida de Francesco Totti, o número 10 da AS Roma. Melhor: o eterno 10 da AS Roma. Em futebol, 25 anos na equipa principal são uma eternidade – quase toda a vida de Totti, ‘Il Re di Roma’ ou ‘Il Capitano’. O homem que podia ter jogado noutros clubes – e ganho muito mais dinheiro – e nunca saiu “do clube do seu coração”. Hoje, “clube do coração” não quer dizer nada a não ser que se esconda a “cor do coração” e Totti nunca o fez: onde ele estava, estava a AS Roma, no lugar de campeão, no de segundo (a Roma é campeã de segundos lugares), no de sexto, no de antepenúltimo. Ontem, Totti encheu de lágrimas o Estádio Olímpico. Aos 40 anos Totti já não “fazia a diferença”, nem a Roma está na primeira linha. Mas ao vê-lo, ali, reunindo milhares de adeptos para a sua despedida, só podíamos ter inveja daquela glória hoje tão rara. Não no futebol (“É um mundo que não me agrada, cheio de gente que não gosta de futebol, que só gosta de dinheiro”, diz Totti). No mundo dos homens que ainda são humanos.
Parece que há cerca de quatro anos a editora inglesa Constable & Robinson recebeu um manuscrito, The Cuckoo’s Calling, Quando o Cuco Chama, de um autor desconhecido, Robert Galbraith. Na resposta, o editor dizia que se tratava de um livro comercialmente inviável e recomendava mesmo que Galbraith, ai dele, tivesse aulas de “escrita criativa”. Erro crasso: Galbraith era o pseudónimo que J.K. Rowlling (criadora de Harry Potter) usava para as histórias policiais do detetive Cormoran Strike, e o livro foi um sucesso comercial. Coisa diferente ocorreu há 121 anos, quando a mesma casa editora aceitou publicar um “romance de horror” de um vago jornalista irlandês que trabalhava em Londres no Telegraph, Bram Stoker. O livro não foi um best-seller imediato, mas Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes) achou-o magnífico e a crítica, em geral, comparava-o a Frankenstein, de Mary Shelley, às obras de Stevenson ou Poe, ou a O Monte dos Vendavais. O personagem principal era um conde que vivia entre a Transilvânia (na atual Roménia) e a Moldávia – e o livro era Drácula, publicado a 26 de maio de 1897, há 120 anos. Passado todo este tempo, Drácula ainda povoa os nossos pesadelos.
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