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Há exactamente 16 anos, a 1 de Junho, estava bem perto da discoteca Dolphinarium, em Telavive – onde um bombista suicida se fez explodir matando 21 adolescentes. Na altura, o Guardian publicou as declarações do pai do jihadista, Saeed Hotari: «I am very happy and proud of what my son did and I hope all the men of Palestine and Jordan would do the same.» À ABC News, as declarações foram ligeiramente diferentes: «I am proud and I will never forget it until the last day of my life. This kind of death is better than any other kind of death. Thanks to God.»
Dois anos depois, a foto de Saeed Hotari estava presente na sessão onde o mayor de Londres, Ken Livingstone, e Cherie Blair, mulher do primeiro-ministro britânico, prestavam homenagem aos heróis do Hamas e da então Jihad Islâmica, que reivindicaram o atentado na Dolphinarium e que, menos de dois meses depois, faziam explodir a pizaria Sbarro, no centro de Jerusalém, à hora de almoço.
O que é uma hipérbole? Uma figura de estilo que assenta na expressão exagerada de uma imagem, uma ideia, uma comparação. Se quiserem mais, perguntem ao Presidente da República que, chegado aos Açores, tratou de classificar como uma “grande terra com grande gente”. Que problema isto levanta? Aparentemente nenhum, e sou açoriano honorário – mas, conhecendo os portugueses, não haverá concelho que não tenha já montado o seu vigilante “elogiómetro” (um dispositivo para medir a intensidade dos elogios patrióticos). Minhotos, alentejanos, beirões do mar e da serra, raianos e ilhéus: não conheço terra que não esteja pronta para o seu elogio – e a compará-lo com os precedentes. Se o presidente é tão elogioso para com (imaginemos) as ameixas de Elvas, o que dirá (imaginemos) do presunto de Chaves? A uruguaia Cristina Peri Rossi tem um belo romance intitulado O Amor É uma Droga Dura. Também o otimismo patriótico é uma droga dura. Obriga-nos a subir a dose do elogio; chegará um dia em que o dicionário não bastará para satisfazer a fome de amor presidencial. Será, ai de nós, um dia terrível.
Daqui a uma semana, o Teatro de S. João, no Porto, vai estrear Macbeth, de Shakespeare (encenação de Nuno Carinhas, tradução de Daniel Jonas). Refiro-o também porque passaram ontem 110 anos sobre o nascimento de Lawrence Olivier (1907-1989), a quem devemos a grande trilogia de Shakespeare no cinema: Henrique V (1944), Hamlet (1948, vários triunfos nos Oscares) e Ricardo III (1955) – um clássico na representação de Shakespeare, e na história dos seus rostos inesquecíveis (há ainda Otelo, Henrique V, Rei Lear e O Mercador de Veneza). Foi durante um Hamlet que conheceu (em 1937, o mesmo ano em que representa Macbeth) uma das mulheres da sua vida, Vivien Leight (a Scarlett O’Hara de E Tudo o Vento Levou e a Blanche Du Bois de Um Elétrico Chamado Desejo). Reduzir Olivier a Shakespeare é ridículo: ele é o grande rosto de Heathcliff no Monte dos Vendavais de 1939, ou o de Rebecca, de Hitchcock, ao lado de Joan Fontaine, ou Mr. Darcy no Orgulho e Preconceito com argumento de Aldous Huxley (de 1940). A sua representação devolve-nos o prazer dos clássicos.
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