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Lembro-me bem do tempo em que os inteletuais, por exemplo, evitavam falar de comida – um assunto que sujava os dedos (ao longo da minha vida conheci gente que desprezava ostensivamente assuntos de comida e que garantia que se devia “comer para viver e não viver para comer”, o que é uma trafulhice de todo o tamanho). Na década de 80, inclusive, chegaram a vender-se apartamentos sem cozinha. O mundo mudou; hoje a comida transformou-se numa obsessão: ou com dietistas que possuem a fórmula mágica da saúde eterna, ou com a avalanche de loucuras ‘gourmet’, ovas de caracol, festivais de comida, ‘showcooking’, festas de ‘street food’, cursos de cozinha, mostras de cogumelos ou tofu, delírio com sushi, a moda das sopas orientais, ‘ramen’, ‘souping’, ‘hibachi’, bebidas à base de carvão, abacate, etc., etc. Por instantes, eu – que cozinho todos os dias, e gosto – tive saudades de outro tempo. Havia comida. Havia cozinheiros. Gostávamos do que gostávamos. Procurávamos produtos naturais que não eram “biológicos”. E comer era simples como viver. Exceto para gente palerma, ontem e hoje.
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