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Chick-noir.

por FJV, em 01.05.17

Não faço parte do grupo de almas que se escandaliza com a “violência no futebol”, porque desde há muito que está escrito esse guião: grupos, maioritariamente dirigidos por energúmenos que frequentam ginásios e vivem à margem da lei, e que atuam com certa impunidade, uma vez que nenhuma autoridade tem coragem para enfrentar as forças organizadas dos clubes. Digo isto e sei do que falo, porque participo – com muita honra – num programa de futebol na CMTV, porque me envergonham tanto as claques a entoar cânticos patetas (no meu clube também) como os políticos que se sentam nos camarotes (capturados pelos “presidentes”). Antes do Sporting-Benfica deste fim de semana houve as “naturais” tropelias entre adeptos e soldados. Pelo meio, uma morte – tudo leva a crer, um assassínio. Estranho que até ontem à noite nenhum político tenha aparecido a interrogar-se em público sobre os factos ou a exigir investigação. Um crime violento ligado ao futebol merece não apenas o estupor das bancadas, mas um inquérito policial célere, exemplar – e castigador. Ou toda a gente tem, mesmo, medo do futebol?

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Os cavaleiros da República.

por FJV, em 01.05.17

A França é o país da retórica. Se quiserem, leiam A Sétima Função da Linguagem, o romance de Laurent Binet sobre o assassínio de Roland Barthes: nos salões caros de Paris falava-se de revolução e de massacre; na universidade – leiam Foucault, Derrida ou Lacan – não se dizia uma única coisa inteligível; nas ruas, Sartre, que queria o dinheiro do Nobel mas não ir recebê-lo, defendia Mao e os campos da morte do Camboja e da China – em pijama. E no início da presidência de Hollande, os ricos iriam ser taxados em 75% para alimentar um estado falido mas bem falante. A direita francesa, que oscilava entre o poujadismo pré-gaullista e aquela espécie de nepotismo de Maulraux (Le Pen é um abismo recente, mas com raízes profundas), não era tão ridícula, mas tinha os seus velhacos, como Sarkozy, e os seus corruptos, como a esquerda os seus déspotas amados (Mitterrand). Nada tão cómico como assistir a um debate na televisão entre inteletuais ou candidatos a presidente – todos gostam de se ouvir. O resultado é também este enquanto as ruas ardem. Deus nos livre destes cavaleiros da República.

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