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Para entender o mundo (Europa incluído) é necessário sair da Europa. Não é o que fazem os europeus, encarcerados pelos seus problemas do euro, do “estado social” e das crises parlamentares. Em Alexandria, no Egito, por exemplo, fez-se a primeira das grandes traduções da Bíblia, há dois mil anos. Foi aí que ontem um bombista suicida se fez explodir matando 11 pessoas na igreja de São Marcos. Horas antes, um atentado na igreja de Mar Gigis, a menos de 100 quilómetros do Cairo, provocava 25 mortos. Ao todo, cerca de 120 feridos. Dizimar cristãos, no Egito ou no Quénia e na Somália, na Síria ou na Índia, parece ser um novo objetivo do terrorismo, em nome do Islão radical. Nesses lugares, os cristãos são minoria; a Europa cristã, que dizimou judeus no passado e entretanto já deixou de ser cristã para agora não ser nada, não pode responder aos apelos dessas minorias. É a mesma Europa que chora os seus mortos em Estocolmo, em Paris, em Londres, em Bruxelas, é certo – mas sem entender que chegou o tempo de agir para que valha alguma coisa ser vivo na Terra, o lugar a que merecemos pertencer.
[Da coluna do CM]
A meio da crítica a uma nova biografia de Raymond Chandler, o autor escandaliza-se porque o livro não menciona a “fastidiosa misoginia bem como a tendência sexista” de Chandler e do detetive Philip Marlowe, a sua grande criação (interpretada no cinema por Bogart ou Mitchum). Há semanas deparei, na imprensa americana, com uma polémica sobre se Jane Austen, a de Orgulho e Preconceito, teria ou não sido sexista e racista (por causa de uns tarados da alt-right que elegeram Austen como a madrinha dos “casamentos conservadores”). Já não falo do racismo imputado a Mark Twain ou da acusação de “inimigo do planeta e dos animais” a Herman Melville por causa da baleia de Moby Dick. Camille Paglia contou uma vez a história de um aluno que se recusava a ler autores como Homero, Eurípedes e Virgílio com o argumento de que se tratava de uma mesma classe de autores – brancos, machistas, sexistas e racistas –, apesar de ser estudante de... letras clássicas. Uma classe extravagante de críticos e patetas tomou conta das velhas humanidades e está a passar a pente fino toda a história da cultura ocidental, olhando-a através das lentes de hoje. O grão da censura moral está a germinar como uma ameaça.
[Da coluna do CM]
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