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Na década de 80, a canadiana Louise Poissant publicou ‘O Medo do Grande Amor’, um ensaio sobre aquilo que o título diz – num mundo cercado pelo efémero, o receio de perder o grande amor levava as pessoas a não quererem viver nenhum. Não foi sempre assim, pelo menos na literatura. Tomás Gonzaga (1744-1810), um dos grandes poetas da nossa língua dedicou parte da sua obra a Marília de Dirceu, mulher inventada e ideal, que teria vivido em Ouro Preto (onde ele, que nasceu no Porto, viveu antes de ser exilado para a Ilha de Moçambique, onde morreria). Francesco Petrarca (1304-1374), o grande criador da arte do soneto (a obra está traduzida por Vasco Graça Moura) inspirou-se em Laura, uma jovem idealizada a quem dedicou o seu cancioneiro (as Rimas), alguns dos mais belos sonetos nas línguas latinas. Não apenas idealizada e irreal: ela existiu mesmo. Segundo os biógrafos de Petrarca, o poeta viu-a pela primeira vez (raras vezes se encontraram) na manhã de 6 de abril de 1327, na catedral de Avinhão. Há exatamente 690 anos. Ainda hoje festejamos a sua existência irreal na poesia.
[Da coluna do CM]
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