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Vejamos: em 2011, uma mulher acusou o marido de violência doméstica (e de violação), além de infligir maus-tratos físicos e psicológicos às três filhas. Diante disso, o tribunal condenou-a por difamação, considerando que a mulher, está na cara (com nódoas negras), agiu com o "propósito de difamar e caluniar" o marido, já que as suas acusações são atentatórias (ui, ui) do "bom nome, hombridade, reputação e decoro" do cavalheiro. De acordo. E mais: como não concordar que se trata de "suspeições desprimorosas"? Evidentemente que são. Nojentas. E como não concordar com o tribunal ao considerar que essas "suspeições" põem em causa a "honorabilidade, consideração, honra e dignidade" do marido? Parece, inclusive – que horror –, que ele passou a ser tratado com ‘comentários e olhares vexatórios’, o que não se pode permitir.
Os tribunais têm de defender a honra destes maridos viris. Curiosamente, o tribunal, que condenou a malvada (à primeira), não considera falsas as suas acusações; simplesmente são chatas para o marido. A Relação de Guimarães veio agora anular a sentença. Pobre marido.
Conheci Martin Adler como repórter. Foi assassinado em Mogadíscio por “rebeldes” da Al-Qaeda (assim foram festejados nas ruas de Paris, apenas porque se opunham ao imperialismo americano). Martin fez para a Grande Reportagem, de que fui diretor, a cobertura dos “acontecimentos” de Grozny, na Chechénia: com o argumento de punir o secessionismo e a resistência islâmica, as tropas russas entraram na cidade e destruíram-na, matando toda a gente, na mesma altura em que a opinião pública europeia estava preocupada, sim, com o destino dos bombistas-suicidas do Hamas, o isolamento da Líbia ou com a liberdade dos pregadores radicais das mesquitas de Londres. Hoje, ao ver as imagens de Aleppo, recordo as palavras de Martin, que previra o cenário de destruição da Síria, a aliança Putin-Assad e a formação de um estado pária islamita. Diante disso, os bem pensantes veneram Obama que, sem sair da televisão, deixou o Médio Oriente em chamas (pior do que o encontrou) e permitiu que Rússia sitiasse a Ucrânia e o Mar Negro. Esta gente, reunida, foi a maior fábrica de refugiados do Mediterrâneo.
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