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Tudo tem a ver com sexo – aprende-se isso com a vulgata mais popularucha dos “estudos psicanalíticos”. Uma vulgata tão desmiolada que até Freud se ria do assunto (“às vezes, um charuto é só um charuto”) e deixava Foucault, nos anos 70, indignado com a vaga contemporânea de discursos sobre “o desejo”, uma variante universitária do “desejo”, sim, mas de ver pornografia. Em Inglaterra acaba de ser atribuído o prémio Bad Sex, relativo a más cenas de sexo na literatura – calhou a vez ao italiano Eri de Luca. Não li, mas imagino: uma distração basta para que toda a gente comece a rir, ou, no caso da literatura portuguesa, a discorrer sobre as vantagens da impotência. Nem todos são Philip Roth, e mesmo assim o autor de O Complexo de Portnoy correu riscos abundantes – desculpa-se-lhe porque o tema passa de livro para livro como um pesadelo. A personagem mais injustiçada da literatura portuguesa, a Senhora Condessa de Gouvarinho, de Os Maias, por exemplo, foi destratada por Eça. O motivo? Ela queria sexo e aventura, implicava que queria passar uma noite em Santarém, a meio de uma viagem de comboio, ou que lhe apetecia apenas o picante do adultério; Carlos, apalermado, julgava que ela queria fugir do marido e asilar-se no Ramalhete. É o nosso prémio Bad Sex.
[Da coluna do CM]
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