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A Itália interessa-nos pouco, como se pertencesse a outro continente, o que é uma pena. Daí a imprensa ter banalizado os termos do referendo deste fim de semana, catalogando o “não” no saco enlameado dos “populismos” – a atitude mais fácil. Na verdade, o “não” italiano foi a resposta a uma tentativa autoritária e de concentração de autoridade por parte do primeiro-ministro Renzi. José Sócrates, nos seus tempos áureos, apadrinharia a solução e chamaria “populista” a quem desafiasse a autoridade “eficaz” do Estado (como acabou por fazê-lo). Ontem ouvi vários jornalistas lamentarem, com uma melancolia abjeta, “o fim de dois anos de estabilidade”. Acontece que, em democracia, é fundamental o equilíbrio de poderes, a que Renzi queria pôr um travão, em nome de maiorias substanciais no parlamento. Que isso venha de jornalistas é ainda mais lamentável – e deve-se sobretudo à ignorância e à preguiça. Se “a Europa” estava ao lado de Renzi (do que eu duvido muito), isso então é pior, porque significaria que estaria a sacrificar tudo (a democracia, a representação, o equilíbrio) em nome do poder sem freios.
[Da coluna do CM]
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