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Num mundo que glorifica o corpo e o seu culto narcísico (e a sua paranóia alimentar), que despreza os velhos e endeusa a juventude, a ideia de visitar os mortos – os nossos mortos – é absurda. Mas não devia. Os sinos dobram por eles, os sinos dobram por nós. O Dia de Finados pertence à categoria das velharias que a civilização da frivolidade dispensa como um incómodo; para os neurónios (por assim dizer) dos especialistas em “auto-ajuda” e em “bem-estar”, devemos ignorar a morte e declarar os mortos como coisa inexistente. A verdade é que a morte (que nos levou os mais próximos, que nos desafia permanentemente) é essa fronteira que coloca a nossa pobre existência diante do desconhecido; é um tabu que pretendemos ignorar em vão, tal como a experiência religiosa ou o contacto com a melancolia e o silêncio. Uma civilização arrapazada e fedelha que não relembra os seus mortos talvez não mereça um futuro promissor. Este dia merece uma pausa, uma paragem: para que contemplemos o invisível e relembremos os que partiram e viveram connosco. É por eles que os sinos dobram. Um dia será por nós.
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