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Em 1924 a Europa vivia um período de desgaste e de astenia – entre a Guerra que terminara e a ameaça entorpecente de uma vida sem alegria. Isso explica, talvez, as palavras de André Breton, que nesse ano publica o ‘Manifesto Surrealista’ (houve um segundo, em 1930): uma homenagem à imaginação, ao maravilhamento e à dissolução “do conflito entre sonho e realidade”. Talvez o mundo não pudesse ser o mesmo depois desse reconhecimento – o de que a civilização estava a destruir a capacidade de imaginação e de sonho de gerações inteiras, e que era preciso deixar uma parte de nós à solta. Não interessa aquilo em que o surrealismo se tornou depois (uma espécie de saco de gatos em que a vaidade se misturava com a busca pelo poder do ‘movimento surrealista’), mas aquilo que libertou, na literatura e nas artes (Artaud, Mário Cesariny, Buñuel, Dali, Magritte, Cruzeiro Seixas, António Maria Lisboa, O’Neill) – e o seu apelo ao delírio, à invenção e à beleza. Quando a vida está ausente (“la vie est ailleurs’), como dizia Breton, resta-nos o amor louco (L’Amour Fou, o seu livro de 1937). Passam hoje 50 anos sobre a sua morte.
Da coluna no CM.
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