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O cantinho do hooligan. Onde se pode ser extremista.

por FJV, em 14.09.16

Vi o jogo de sábado no Porto e, apesar dos deslizes habituais (da arbitragem à «falta de eficácia do ataque»), um jogo que termina com 3-0 vale sempre a pena, sobretudo quando A Bola diz que o 2-1 do Benfica é quase goleada. Mas não fiquei convencido. Hoje, frente ao Copenhaga, tentei várias vezes perceber o que andavam pessoas como Layún e Corona a fazer «no miolo do terreno» quando os dinamarqueses estava a jogar com dez e com as alas desprotegidas. Como Brahimi entrou (e depois Jota), ainda pensei num retrocesso para o jogo com extremos (no futebol pode-se ser extremista), mas de repente apareceram-me Layún, Brahimi, Diogo Jota, André Silva e Depoître no meio, diante do autocarro nórdico, a amontoarem-se – até que de repente terminou o jogo. Foi esta a história do jogo, aliás. 

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O ministério das Finanças.

por FJV, em 14.09.16

Podemos nós confiar num ministro das Finanças? Estive a ver a lista, desde o Sr. Visconde de Sá da Bandeira até Mário Centeno, passando por Afonso Costa ou Salazar – e tenho dúvidas. Entretanto conheci a biografia, a fotografia e os feitos da atual ministra das Finanças da Letónia (teve a pasta da Economia entre 2014 e 2016), Dana Reizniece-Ozola, 35 anos (nascida em 1981, tremam de inveja). Pois o que é muito importante na biografia de Dana (tratemo-la assim) é a sua paixão pelo xadrez, a que atribui inúmeras virtudes, como evitar “perder o sentido da realidade” ou “flutuar contra a lei da gravidade” (Dana também se especializou em gestão aeroespacial na NASA ) coisas que – aqui para nós – foram e são características da maior parte dos nossos ministros das Finanças. A surpresa foi quando, na semana passada, nas Olimpíadas de Xadrez, em Baku, no Azerbaijão, Dana derrotou a campeã do mundo, a chinesa Hou Yifan. Dizem-me que a taxa de crescimento da Letónia é de 4%. Acredito. Quando olho para os nossos financistas e fiscalistas não estou a vê-los a ombrear com esta mulher. Um tabuleiro para Centeno, já.

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Calar, calar.

por FJV, em 14.09.16

Pode o juiz Carlos Alexandre dar uma entrevista? Nada o impede. Fez bem em ter dado essa entrevista? Não creio. Abriu um caminho cheio de precipícios, de onde sairá com dificuldade. No entanto, há outro aspecto importante em torno da entrevista que ainda ontem agitava colunistas, comentadores e putativos alvos de Carlos Alexandre: a onda de virgens (também elas putativas, evidentemente) que apareceram a defender o silêncio absoluto dos agentes da Justiça, que devem cumprir as suas obrigações de vestais e, ao mesmo tempo, prestar-se a ser o alvo imóvel onde todos os bertoldinhos podem praticar o seu campeonato de tiro. Figuras muito militantes da arte da indignação julgam ter engolido um garfo e defendem agora que a honra da justiça está perdida. Onde anteontem ouvíamos ditirambos a juízes palradores e excêntricos que decidiam “em certo sentido” e exerciam o seu “direito à palavra”, ontem passámos a escutar apelos à decência e ao silêncio total, forrado a chumbo. Moral de uma tia velha que, lá fundo, aprecia a oligarquia com os seus forra-gaitas e porta-estandartes, desde que seja conveniente e nos faça jeito.

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Enforcar os pessimistas.

por FJV, em 14.09.16

Em 2009, como editor, publiquei um livro intitulado As Vantagens do Pessimismo, de Roger Scruton. Alguns amigos não ficaram agradados com a ideia (as teses de Scruton foram confirmadas pelo tempo – parte delas eram dedicadas à UE, uma das construções do optimismo contemporâneo); fui acusado de fomentar, através desse livro, a falta de auto-estima nacional. Ora, antes e depois do campeonato europeu de futebol, nenhuma palavra esteve tão na ordem do dia como essa: optimismo. Devemos ser optimistas. O presidente da República usou a palavra várias vezes e, ao longo destes seis meses, apelou à nossa auto-estima, acrescentando que devemos unir-nos. Isso levanta um problema: o que significa “estarmos unidos”? Pensarmos todos o mesmo? Rirmos todos das mesmas piadas? Pensarmos que todos temos direito ao Euromilhões? Abdicarmos de dizermos o que pensamos, apenas para pensarmos o que os “otimistas” pensam? Fingirmos de patetas alegres? Sim, o PR faz o seu papel: o horizonte é luminoso, nunca mais haverá trovoadas. Mas, caro Presidente, e quando a euforia se esgotar? Enforcamos os pessimistas, claro.

 

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Buenos Aires.

por FJV, em 14.09.16

Na noite de anteontem o meu coração estava em Buenos Aires, no Luna Park (a sala onde atuaram Sinatra, Ray Charles, B.B. King, ou os Deep Purple) – era a finalíssima do Festival Mundial de Tango (vinte países, milhares de dançarinos). Vi as imagens logo de manhã, com a diferença horária: que beleza, a dos heróis do baile, o casal Cristian Palomo e Melisa Sacchi, milongueiros fanáticos a dançar ‘Quejas de Bandonéon’, um tango de Juan de Diós Filiberto (o autor de ‘Caminito’), de 1918 (tenho a versão maravilhosa da Orquesta Aníbal Troilo, de 1952, com arranjo de Piazzola), improvisando como o faziam em Banfield, arredores da capital para o sul. Ontem foi a final na categoria de “salão”, cheia de acrobacias e encenações: Hugo Mastrolorenzo e Agustina Vignau dançaram ao som de ‘Balada para un loco’, de Astor Piazzolla y Horacio Ferrer. Preferi o primeiro par: improvisação e deliquescência, quer dizer, Cristian e Melisa desafiavam-se num duelo de paixão e vaidade, ele sem dobrar a espinha, ela sem ceder o olhar, num combate sem regresso. Desculpem esta interrupção, mas foi um fragmento de beleza.

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A arte de se indignar a espaços.

por FJV, em 14.09.16

O filósofo espanhol Daniel Innerarity (autor de O Novo Espaço Público e de O Futuro e os Seus Inimigos) esteve no Festival Internacional de Cultura de Cascais para falar da “política em tempos de indignação” (título do seu mais recente livro, publicado pela Dom Quixote). Todos conhecemos o assunto e até o pioneirismo de Innerarity: a indignação da rua “e dos povos” contra as formas tradicionais de fazer política e os seus habituais intérpretes. Infelizmente, diz Innerarity, esse movimento não é suficiente para construir “soluções alternativas” de poder. Também acho. Aliás, ao seu lado estava – no debate – a eurodeputada Marisa Matias, cujo partido está na base da atual solução governativa depois de duas décadas de indignação. Se a “requalificação” da CGD (aumento de salários dos administradores, recapitalização, dispensa de trabalhadores, etc.) tivesse ocorrido nessas duas décadas anteriores, tal como o episódio dos bilhetes de futebol da Galp (seria pedida a demissão do governo), a indignação seria estrondosa, de Valença a Tavira. Mas enfim: o poder, mal se conquista, morigera os tempos de indignação. É uma aprendizagem.

 

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Nem um cigarro na Turquia.

por FJV, em 14.09.16

Abençoada Turquia – ao pé dela, os pataratas que elaboraram a nova e prometida lei inconstitucional do tabaco, são aprendizes. Eles, os clones de Recep Tayyip Erdogan, sabem como se faz: ataca-se pela raiz. Ainda antes do golpe, houve um vice-ministro do governo, um tipo bigodudo, que mostrou o caminho: as mulheres deviam abster-se de rir em público. O riso é a antecâmara do diabo e uma mulher a rir desrespeita o profeta, um homem sério e hirsuto. Se não se pode rir, então imagine-se fumar (o Islão, devagarinho, atira-se à música, como se sabe – proibida pelos sunitas com decoro). Mas a coisa vai passo a passo: por um lado, a Turquia negoceia uns milhões com a UE; por outro, vejam bem, mandou cancelar as representações teatrais que encenavam autores não turcos, como Shakespeare, Tchekov ou Brecht. O vice-presidente dos teatros nacionais, Nejat Birecik (que não tem bigode, mas tem ar de fuinha), diz que a medida visa promover a cultura turca. Já foram encerradas 29 casas editoras de livros. Nada de risos; vão aparando os bigodes e tirando o niqab da naftalina. Um dia isto acaba e não sobra nem um cigarro para queixumes.

 

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A lei do tabaco.

por FJV, em 14.09.16

Aplaudi quando foi publicada a lei do tabaco, a meio da década passada. Sim, era preciso proteger os não-fumadores e limitar o fumo no espaço público. O problema é que as virtudes higienistas são uma droga dura: requerem mais e sempre mais. Começa-se por proibir uma coisa e, daí a pouco, querem proibir ainda mais, até chegar ao ponto em que não se pode proibir ainda mais uma coisa já proibida. Esta situação cómica acontece com os pataratas ligados ao agravamento da lei do tabaco; não interessa que estudos científicos desmintam as suas alegações morais – porque o veneno do proibicionismo lhes entrou nas veias e os transformou em figuras do anedotário nacional. O novo projeto de lei do tabaco é um texto iliberal, com certeza; mas é também iníquo (estes pataratas perpetuados como legionários de serviço não conseguiram diminuir o número de fumadores com o seu estalinismo pacóvio), despropositado, imoral e inconstitucional ao ponto de querer proibir páginas da net. Estes radicais são ignorantes e perigosos, mas são alimentados para fazerem esse papel. Deviam ser sujeitos a um programa de desintoxicação. 

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No portefólio dos percursos formativos, pimba.

por FJV, em 14.09.16

Em tempos, uma das exigências colocadas a professores, suponho até que a alunos e, facultativamente, a técnicos do Ministério da Educação, era uma certa proficiência na escrita da nossa Língua (vai em maiúscula). No Código Penal ainda não estão previstos castigos para os pataratas das várias novilínguas tecnocráticas que se exercitam a escrever inanidades que outros analfabetos depois repetem, rolando a esclerótica. Mas pede-se que os técnicos superiores do Ministério da Educação escrevam com uma – digamos – clareza meridiana, compreensível, e demonstrando que uma frase deve ter, pelo menos, sujeito, predicado, complemento direto e algum juízo. Por motivos inexplicáveis acabo de ler um texto em que o mais alto técnico do ministério lavrou o seguinte, relativo ao novo programa de educação de adultos: “Este programa deverá assentar numa maior integração das respostas na perspectiva de quem se dirige ao sistema, tornando, na óptica do formando, coerente e unificada a rede e o portefólio dos percursos formativos, que no percurso individual devem ser passíveis de combinação personalizada.” Merecemos.

 

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