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Não entendo os protestos contra a fiscalização das praias para verificar se os vendedores de “bolas de Berlim” passam a respetiva fatura – nem o dos cínicos que se riem da intenção de o Estado penalizar os imóveis que recebem mais luz solar, ou têm vista sobre a polinização dos jardins. O dever do Estado é o de ter o seu rebanho vigiado. E o seu rebanho são os contribuintes, que devem ser apascentados com magnanimidade mas rédea curta. Os contribuintes que fazem sexo numa praia, altas horas, deverão ser obrigados pelos fiscais a apresentar a fatura do preservativo, caso usem (se não usarem devem fazer prova, à vista); de contrário, coito interrompido. E mesmo no aconchego do lar, o fisco tem uma palavra a dizer sobre os delírios privados. É isto difícil? Talvez, porque os portugueses são manhosos e comem croquetes não faturados. O que se resolveria se cada cidadão estivesse acompanhado, durante boa parte do dia, e da noite, por um fiscal do Estado – ele controlaria tudo (ah, que base de dados!) e cobraria na hora. Ou o contribuinte apresenta a fatura – ou o fiscal leva a cabeça debaixo do braço.
O eurodeputado Francisco Assis pediu à vice-presidente da União Europeia para os Negócios Estrangeiros que obtivesse informações sobre o dissidente cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome e risco de vida, o que foi visto como uma excentricidade de Assis – mas não é. Dois factos: Fariñas foi distinguido em há seis anos com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu; depois do festival de reabertura de relações com os EUA, o regime cubano endureceu a perseguição a opositores (em 2015 houve 8.600 prisões por motivos políticos; até agora, em 2016, já se contam mais de 6.700), o que dá bem a ideia de como a Cuba dos Castro aproveitou a boleia de Obama. Terceiro facto, em suplemento: em dezembro do ano passado, a Assembleia da República recusou-se a receber Fariñas, então de visita a Portugal, quem sabe se depois de pressões da embaixada cubana. Não se viu nenhum intelectual ou “ativista” profissional protestar contra esta indignidade. Pelo contrário: os mesmos que condenaram o grande Guillermo Cabrera Infante ao ostracismo durante anos, festejam os Castro, e ignoram vergonhosamente Fariñas.
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