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A minha primeira surpresa, quando cheguei à universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, foi o horário das bibliotecas: algumas delas estavam abertas 24 horas – e era possível (e em certos casos necessário) reservar lugar para a noitada de trabalho. Recordei a frase de Einstein sobre o assunto: “A única coisa que é absolutamente necessário saber é a localização de uma biblioteca.” Depois da revolução feliz que foi a criação da rede de bibliotecas públicas – e que mudou verdadeiramente o país – tenho trabalhado com o grupo das bibliotecas escolares portuguesas, um sonho tornado possível com Teresa Calçada – e a experiência é enternecedora, mostrando gente cheia de entusiasmo que sabe que, hoje, as bibliotecas não são depósitos de livros, mas também lugares de encontro, de estudo, de perturbação ou até isolamento. De vez em quando vou a uma dessas bibliotecas públicas perto de casa, aberta aos fins de semana. Oiço o silêncio dos livros, que murmuram sem cessar. Risos no jardim. A felicidade de estar perto de gente que lê e se perde a despropósito, sem razões nem método.
Enquanto as vendas de música e cinema registam uma subida crescente em plataformas e meios digitais, a edição americana está a registar um declínio nas vendas de e-books; o último balanço dá conta de uma queda de quase 15% desde 2014, números do passado mês de abril. Os especialistas atribuem a desvalorização do livro eletrónico a duas razões; ambas me deixam relativamente contente. Primeiro, porque os aparelhos de leitura são – como se advertia desde o início – concorrentes da própria leitura, ou seja, oferecem serviços que distraem da leitura e são cada vez menos usados para o fim para que foram criados (59% dos inquiridos declaram que, simplesmente, regressaram aos livros em papel, e apenas 22% dos utilizadores de tablets os usam para ler, sendo que são eles os responsáveis por 66% das compras totais de e-books). Depois – diz o inquérito realizado pelo Codex Group – por puro “cansaço digital”, um efeito que lentamente parece estar a dominar as comunidades mais eufóricas em relação aos novos meios tecnológicos. Fartinhos de gadgets, da net e do digital, leio eu. As coisas assentam, como é seu dever.
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