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Safe place.

por FJV, em 01.05.16

Tornou-se agora um hábito, nas universidades dominadas pelas esquerdas de várias procedências, a criação de “lugares a salvo” de agressões ideológicas. O objetivo, tonto e paternalista, é não agredir os pobres estudantes com “ideias incorretas”, como o racismo, o machismo, o sexismo e outras patifarias protegendo-os de tudo o que os ofende. Não se discutem as ideias: proíbem-se e retiram-se do espaço público. Em Nova Iorque, por exemplo, os estudantes multiculturais sentiram-se ofendidos por uma estátua de Henry Moore e a universidade foi obrigada a retirá-la. Em Oxford, foi cancelada uma conferência de Camille Paglia porque a comunidade LGBT se sentia ofendida pelas suas ideias sobre “género”. Uma estudante de arte da Universidade da Pensilvânia sentiu-se ofendida com a exibição de ‘La Maja Desnuda’, de Goya, e a Comissão de Ação Afirmativa das Mulheres considerou que o quadro de Goya instaurava um ambiente hostil e desconfortável para a mocinha, ou seja, de assédio. Nos anos 60 e 70, a luta era contra o paternalismo e pela discussão aberta. Hoje, as universidades são altares da vitimização e da ignorância.

 

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O Estado, o Estado.

por FJV, em 01.05.16

Portugal é um país liberal, mas nunca foi um país de liberais; ou seja, atrás da cortina existe, periódica ou permanentemente, a tentação de estabelecer pequenas ditaduras. A do sistema educativo é uma delas, herdeira do jacobinismo vintista (“Portugueses, não me obrigueis a libertar-vos pela força!”, ameaçava D. Pedro IV, antes da guerra civil), da República do PRP e de Afonso Costa, e do salazarismo. Para lá da discussão sobre os “contratos de associação” e o papel do ensino particular e cooperativo, a tentação de uniformizar e de pôr o Estado a dirigir todo o aparelho educativo é enorme. Manual escolar único, todo o poder à escola do Estado, conceber a escola não-estatal como um pecado social – esta trindade não é inocente e antecede o momento em que sovietes improvisados determinarão o que é correto ensinar-se em matéria de História, por exemplo, e em que os professores serão instrumentos da ação educativa e política do Estado (será a segunda fase, mas está no programa). Para esta nova geração de incumbentes, a escola é uma das divisões do aparelho ideológico do Estado. É gente bem intencionada e perigosa.

 

 
 

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Um elevador na China.

por FJV, em 01.05.16

A ideia de que os processos criativos são, muitas vezes, atitudes para sublimar a violência, ou de que há atitudes violentas que tresandam a criatividade, acaba de ganhar um novo adepto: este vosso colunista, extremamente relapso a ver vídeos classificados como (exultem!) “virais”. Desta vez, as imagens – divulgadas ontem pelo CM e captadas por câmaras de vigilância de um elevador, na China – mostram uma jovem a ser incomodada por um rapaz à ilharga que tanto a ronda com exuberância, como a toca sem cerimónia, mas sem autorização; ultrapassada esta barreira, a mulher, de aparência franzina (a elegância é bom engodo), golpeia-o com um decidido sopapo, primeiro, e conclui com dois exatíssimos pontapés na virilha. O macho afoito fica deitado no chão, aos olhos de toda a China (o vídeo foi divulgado pelo ‘Diário do Povo’, 6 milhões de leitores, e pela rede Sina Weibo, 250 milhões) – e ela sai, consultando seu telemóvel. Espero que não sejam imagens forjadas porque o momento é uma obra de arte sobre a qualidade das relações humanas e uma lição sobre assédio sexual nos elevadores chineses.

 

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Shakespeare, Cervantes e cerveja.

por FJV, em 01.05.16

Hoje sabemos que William Shakespeare e Miguel de Cervantes não morreram no mesmo dia, a 23 de abril de 1616. E que nenhum deles, aliás, morreu a 23 de abril (Cervantes a 22 de abril, o inglês a 3 de maio). Mas, em literatura, a verdade não pode atrapalhar uma boa história, e a boa história é imaginarmos que os dois maiores génios da literatura europeia deram o último suspiro no mesmo dia, à luz da mesma melancolia. Não foi assim. Mas é assim por nossa conveniência. Por isso continuaremos a comemorar o encontro destas duas almas no mesmo dia do nascimento de São Jorge da Capadócia (na atual Turquia, em Izmit, antiga Nicomedia), uma figura emblemática que se festeja na Catalunha com livros e rosas – e do desaparecimento de Inca Garcilaso de Vega, não o poeta espanhol, mas o historiador mestiço peruano, cujas obras se publicaram em Lisboa (e não em Espanha) na primeira década do século XVII. Tudo a 23 de abril, tal como a publicação, na Alemanha, mas 100 anos antes da morte de Cervantes e Shakespeare, de uma das mais belas leis da nossa civilização, a Lei da Pureza: dizia que a cerveja só podia fabricar-se com água, cevada, levedura e lúpulo. 

 

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O drama dos refugiados.

por FJV, em 01.05.16

A recente operação de sensibilização para os mais jovens acerca do ‘drama dos refugiados’ é um exemplo de como a fábrica de cidadania é ridícula. A ‘operação da mochila’ visava mostrar às crianças como era difícil ser refugiado; até o presidente da República metia lá dentro um livro em vez de um anoraque, e as “redes sociais” protestaram quando alguém preferia transportar coisas politicamente incorretas. O problema é que o ‘drama dos refugiados’ não é o de guardar apenas três ou quatro coisas numa mochila, como faziam os escuteiros do meu tempo antes de se aventurarem num fim de semana na serra: é o de abandonarem uma casa, um país, uma rua, uma escola – por causa de uma guerra que os doutrinadores de cidadania europeia se mostraram incapazes de deter, vencer ou evitar, quer por covardia, quer por ignorância ou preconceito. Estou à espera que, um destes dias, um dos nossos doutrinadores nos lembre o grande estadista que é Bashar al Assad, para não irmos mais longe, defendendo Khadafi (sim, já sei: era um homem convertido ao bem depois de uma carreira de assassino e lunático).

 

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