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À sexta-feira, semanalmente. Esta é a primeira da nova série de crónicas de J. Rentes de Carvalho, quarenta anos depois das do Expresso, e cinquenta anos depois das do Diário Popular:
Dias atrás, numa imitação do que costumavam fazer os escritores na minha juventude, passei um bocado de tempo encostado à ombreira da Livraria Bertrand. A ver passar mundo, fazendo involuntariamente comparações entre a mocidade alegre de agora e a rapaziada bisonha do meu tempo.
Quando, em 1989, o ayatolah Khomeini emitiu a ‘fatwa’ que condenava à morte o escritor Salman Rushdie, a vetusta Academia Nobel sueca recusou-se a tomar posição para não ferir suscetibilidades e, oficialmente, porque não se metia em assuntos políticos. Era mentira: a academia meteu-se sempre, e vergonhosamente, em assuntos políticos – até quando atribuiu o Nobel a Mikhail Cholokov para “recompensar” a URSS pelo prémio (nunca recebido) a Boris Pasternak. A Academia não se solidarizou com Rushdie para não afrontar os assassinos que atuam em nome do Islão e cumprem ordens dos seus imãs. Este ano já foram emitidas fatwas contra Kamel Daoud (autor de Mersault, Contra-Informação, publicado pela Teodolito) e Boualem Sansal (autor de 2084, o Fim do Mundo, a publicar pela Quetzal), ambos argelinos. E, na véspera dos atentados de Bruxelas (e logo a seguir aos estranhos acordos entre o Irão e os EUA), as autoridades de Teerão aumentaram o valor da recompensa pela morte de Salman Rushdie para mais de meio milhão de euros. Chama-se a isto um esforço de integração e de boa vontade. Talvez a Europa aprenda alguma coisa. E sim, finalmente a Academia Nobel disse estar do lado de Rushdie.
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