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Na próxima terça-feira, 29 (18h30), a Biblioteca Nacional abrirá as suas portas para um colóquio sobre a obra e a notável figura de Fernando Ribeiro de Mello (1941-1992). Para as “novas gerações” este nome há de ser estranho, o que é uma injustiça fatal e imperdoável – para Ribeiro de Mello e para a sua editora, a Afrodite, que de 1965 até ao final dos anos oitenta construiu um catálogo tão inovador como perdulário, tão provocatório como minucioso e ousado, minando as bibliotecas e as tipografias bem comportadas (Pedro Piedade Marques publicou recentemente Editor Contra, edição Montag), convocando autores, tradutores e ilustradores. Foi o trabalho dessa editora que a censura designou como uma “insólita ofensiva de corrupção”, logo depois de ter publicado a Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, de Natália Correia, e A Filosofia na Alcova, de Sade. Daí até aos anos 80, Fernando Ribeiro de Mello – um portuense em Lisboa – havia de tornar-se uma referência da nossa edição, publicando livros, imaginando-os, publicitando-os da maneira mais escandalosa. É um pedaço da nossa história.
Quantos europeus declararam simpatia pelos bombistas suicidas?
Discoteca Dolphinarium, em Telavive: 24 adolescentes mortos por um bombista suicida.
A boa consciência europeia, interpretada por vários líderes políticos, mostra as suas lágrimas diante dos atentados de ontem em Bruxelas, o coração da União Europeia. Comoventes, reais e sinceras – essas lágrimas, no entanto, não comovem. Durante duas décadas, e até ao dia de ontem, as autoridades europeias limitaram-se a murmurar uma série de princípios e incongruências sobre terrorismo e, para não variar, banalidades sobre segurança e apostilhas acerca da liberdade. Entretanto, é bom que se diga, a boa consciência europeia assistiu quase de palanque a horrores um pouco por todo o lado (em África como no Médio Oriente, na Ásia como na América, passando pela reação covarde aos atentados de Atocha ou de Londres), até as coisas terem chegado a este ponto – a um não retorno. As imagens de ontem correm um risco: tornarem-se banais. Ninguém reage ao que é banal. Em seu lugar, o medo é um argumento fatal. Após décadas de atentados em Israel, a boa consciência europeia preferiu criticar Israel, apoiar o Hamas, ignorar a história, contemporizar e, como fez a mulher de Tony Blair, dizer que compreendia os bombistas suicidas, transformando-os em heróis. Estão aí, os heróis.
Solitária, discreta, procurando um anonimato difícil (ainda mais para quem, até 2002, escrevia quase um livro por ano), voz suave, celibatária – Anita Brookner (1928-2016) morreu aos 87 anos, a 10 de Março, embora a notícia só tivesse sido dada quatro dias depois, anteontem à noite. São muitos os seus livros publicados em Portugal, mas a coroa de glória é Hotel du Lac (Bertrand), o seu quarto romance, que em 1984 arrebatou o Booker Prize, batendo O Império do Sol, de J.G. Ballard, O Papagaio de Flaubert, de Julian Barnes, ou O Pequeno Mundo, de David Lodge. Antes tinha publicado um romance de nota, Olhem para Mim – mas a história de Hotel du Lac é pura reinvenção do espírito romântico, observação, nostalgia, vidas que se procuram num pequeno hotel perto de Genebra onde se hospeda a protagonista, Edith Hope, uma escritora. Até ao fim da sua vida literária, em 25 romances, Anita Brookner (filha de judeus polacos e historiadora de arte) replicou a vida igualmente discreta de personagens que um dia viram a felicidade e a perderam. Esse mundo delicado, da classe média, nunca mais existiu senão nos seus livros.
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