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Passam hoje 120 anos sobre o nascimentos de Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Há uma novidade brutal na sua obra, uma desesperança quase criminosa: Morte a Crédito, Viagem ao Fim da Noite ou Norte fornecem as peças essenciais, notáveis, desse retrato do “escritor maldito”. Mas, por muito conveniente que seja, Céline não é maldito: uma parte substancial da sua obra é apenas um testamento anti-semita, vergonhoso (Vão Navios Cheios de Fantasmas). Deve ser julgado por isso, ou devemos valorizar a sua obra devastadora, que mudou a língua literária do seu tempo? Hoje, em época de paz, temos de fazer um esforço para recolocá-lo no lugar dos seus tormentos: “Eu matei muito”, dizia Céline sobre a sua memória da I Guerra. Nunca se é o mesmo depois disso. Tudo deixa de existir (ele não acreditava no amor): a decência, a normalidade, a vida plena. Sim, era um ser abjecto, um escritor único e impiedoso.
[Da coluna do Correio da Manhã]
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