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Conheci-o em 1995, quando o México estava a mudar, esmagado pela revolta de Chiapas e pela agonia do regime. Salinas estava para ser substituído por Zedillo, e o PRI velho não teria muito tempo de vida, no meio de cumplicidades com os cartéis da droga. Eu queria conhecer José Emílio Pacheco (1939-2014) porque tinha lido Los Trabajos del Mar e Ciudad de la Memoria, dois livros que me revelavam um pouco da sua poesia, direta, melancólica, musical. Na véspera, fui comprar As Batalhas no Deserto (que o editor Marcelo Teixeira, corajosamente, depois publicou em Portugal) e li-o de uma assentada: era um retrato curto, maravilhoso e quase adolescente das mudanças no México cinquenta anos antes, retrato sentimental da capital do país. Depois de conhecer Carlos Monsiváis, Jaime Sabines ou Adolfo Castañon, trilogia de respeito, Pacheco (Prémio Cervantes em 2009) foi uma grande descoberta no México desses anos de pólvora e ‘mariachi’. A morte levou-o anteontem. Ele escrevera: «O guardião não me deixa entrar./ Já passei do limite de idade.»
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Confesso que alguns deles (Don Mclean, Donovan, Peter Paul & Mary...) eram para lá de aborrecidos, para não dizer insuportáveis, mas Pete Seeger não tinha culpa de ter deixado raízes em todo lado: a sua vantagem era ser o original, o homem que desde a década de quarenta não podia ser esquecido quando se falava do “folk americano” e do “ativismo cívico”. Pete Seeger (1919-2014), que cantava com desleixo (não era isso que interessava, nem a Alan Lomax ou Woody Guthrie) mas com empenho, serviu-se da música para – nos anos sessenta – a transformar, sobretudo, em intervenção política. ‘Where Have All the Flowers Gone’ e ‘Turn, turn, turn’ (os Byrds têm uma excelente versão) são boas canções, e ‘If I Had a Hammer’ tornou-se uma das bandeiras do seu repertório, imenso, comprometido e inspirador. Sem ele, a música popular teria sido diferente e mais desatenta. Aos 94 anos, imagino que morreu a trautear.
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